Hot Milk (Reino Unido, 2025)
Título Original: Hot Milk
Direção: Rebecca Lenkiewicz
Roteiro: Rebecca Lenkiewicz baseada no livro de Deborah Levy
Elenco principal: Emma Mackey, Fiona Shaw, Vicky Krieps, Vincent Perez, Yan Gael, Patsy Ferran e Korina Gougouli
Duração: 93 minutos
Rebecca Lenkiewicz é uma roteirista de sucesso, assinando roteiros como Desobediência (2017) e Colette (2018), mas que está pela primeira vez assumindo a direção de um filme. Se trata da adaptação do romance Hot Milk, de 2016, que conta a história de Sofia (Emma Mackey) e sua mãe Rose (Fiona Shaw) quando elas tiram férias na Espanha em busca de um novo tratamento alternativo para uma doença misteriosa que acometeu a mãe e dificultou fortemente sua mobilidade, a deixando presa a uma cadeira de rodas.

Nos pormenores do drama, há diversas camadas ocultas, como a relação de codependência entre mãe e filha, o despertar sexual de pessoas queer e o momento bastante necessário de compreender qual o limite da relação familiar em prol do próprio bem-estar. Em paralelo, lidamos com o mistério sobre a doença de Rose e sua atitude sempre negativa em relação à garota que deixa de viver sua própria vida para poder cuidar da mãe. Entre o tratamento que parece envolver tanto questões mais físicas quanto as de raíz psicossomática, a psicanálise se torna frequente na vida da mãe. Enquanto isso, a filha conhece Ingrid (Vicky Krieps), uma figura enigmática e sensual que a intriga.
Por mais que tenha diversas cenas visualmente e narrativamente impactantes, talvez o problema do filme seja a falta de uma melhor articulação entre suas partes. Todos os movimentos da obra acontecem de maneira muito brusca, o que pode fazer sentido quando se fala de paixão, mas não no desenvolvimento do relacionamento entre mãe e filha, ou mesmo a busca da filha por suas origens, o que gera um episódio que parece não fazer parte da mesma obra. Mesmo compreendendo que esta é uma adaptação de livro, e eu não li esta obra de origem, essa situação gera uma interrupção na trama e desconexão com o resto do acontecimento.
Existem alguns elementos utilizados que conseguem passar sensações físicas que nos conectam à obra, como o uso do som de um latido frequente e de diversas moscas que ficam rondando as pessoas ao longo do dia. Isso somado a uma fotografia que valoriza o sol espanhol aumenta a imersão naquele ambiente, mas a falta de personagens mais convincentes ainda torna a experiência mais vazia.
Existem momentos muito enigmáticos, como a chegada inicial de Ingrid em um cavalo na praia, que remonta ao momento de contos de fadas. Isso é somado a performances muito fortes de todas as personagens femininas, que mesmo com o pouco contexto se mostram ao menos arquetipicamente estimulantes. A sensação de nunca chegar ao potencial proposto é pior do que não haver nenhuma promessa.
Ainda que não seja um filme devidamente ruim, a obra parece nunca realizar o que está preparando, e quando chega ao final tem uma resolução tão abrupta que não justifica toda a preparação. Mesmo entre o calor da praia e o romance, nos sentimos presos a uma cadeira de rodas sem conseguir reagir.