Crítica | 75ª Berlinale | The Light

The Light (Alemanha, 2025)

Título Original: Das Licht

Direção: Tom Tykwer

Roteiro: Tom Tykwer

Elenco principal: Lars Eidinger, Nicolette Krebitz, Michael Ihnow, Marius Biegai, Elyas Eldridge, Julius Gause e Elke Besendorfer

Duração: 162 minutos

A luz é a faixa de radiação eletromagnética que nossos olhos são capazes de captar. Pensando nisso e somando ao diretor Tom Tykwer, diretor alemão famoso por Corra, Lola, Corra (1998) e Cloud Atlas (2012), seria difícil pensar em um filme mais significativo para iniciar o 75º Berlinale.

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A trama funciona como uma leve guia para falar sobre a luz que o diretor realmente deseja abordar. Temos uma família formada por personagens peculiares por si só: Tim (Lars Eidinger), o homem casado há muitos anos que deseja retomar a paixão na relação com a esposa; Milena (Nicolette Krebitz), a esposa, que se preocupa tanto com um projeto social que lidera em um país africano que simplesmente esquece da vida que está na sua frente em Berlim; Jon (Julius Gause), o estereótipo de garoto viciado em jogos com dificuldades em se relacionar com pessoas; sua irmã gêmea Frieda (Elke Besendorfer), a garota festeira que mal para em casa; e Dio (Elyas Eldridge), filho cuja guarda é dividida com o pai e que acaba aparecendo e sumindo ao longo da história. Se parece que a obra está abordando muitos assuntos ao mesmo tempo, na realidade ela está mesmo. São tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo que se torna difícil acompanhar – mas esse é justamente o efeito que a obra quer causar em seus espectadores. Se tentássemos encaixar o filme dentro de moldes mais tradicionais de roteiro, poderíamos dizer que ele se inicia quando a empregada doméstica da casa morre no serviço e demoram horas até descobri-la morta ali. No entanto, em um daqueles casos nos quais só compreendemos realmente a obra a partir de seu final, percebemos que a sua primeira cena na verdade já tratava aquilo que viria pela frente.

A obra acaba trazendo um traço já muito presente nas obras de Tykwer sobre a interseccionalidade da vida. Não falando necessariamente sobre um destino imutável, ele na verdade celebra a arte dos encontros, colocando várias pequenas narrativas que falam sobre o poder transformador de laços afetivos e da coletividade. Isso é possível através de um roteiro bem amarrado e de uma obra com cortes rápidos e cenas dinâmicas, que se relacionam muitas vezes com o que estava acontecendo na cena anterior por mise-en-scéne. Sentimos uma continuidade de fatos e assuntos, o que parece ser a intenção do diretor.

Entre momentos emocionantes e diálogos afiados e engraçados, percebemos bastante da autorreferência ao trabalho de Tykwer. Há uma volta a Berlim, com forte destaque para pontos marcantes da cidade como acontecera em Corra, Lola, Corra, e também passamos para um tom sobrenatural e de ficção científica de Cloud Atlas. Temos ainda uma sensação muito semelhante à de Sense 8 no que diz respeito à continuidade das ações entre personagens em cenas diferentes. Parece existir um momento de olhar para si mesmo e colocar inclusive pedaços de autocrítica no texto, que brinca bastante com a noção europeia de salvadora branca quando muitas vezes ela é a causadora dos problemas que deseja depois resolver.

Mesmo com tantas qualidades, o resultado final da obra é um tanto inconsistente. Há uma somatória de diversos elementos que acaba tornando o filme cansativo e até pedante na maneira que interliga todos esses temas. Apesar da grande quantidade de boas ideias sendo gestadas, fica-se com a sensação de que elas nunca avançam o suficiente e ficam em um meio termo entre seguir uma lógica de cinema mais tradicional ou simplesmente se jogar em uma noção mais experimental. É apenas quando chegamos em seus momentos finais que o filme decide abraçar o sua essência abraçada ao sobrenatural que entendemos toda a sua lógica, mas após mais de duas horas de filme, ele já perdeu a atenção de grande parte dos espectadores.

Longe de ser um filme ruim, ele parece um filme realizado por uma pessoa em crise, e cuja crise se reflete a todo momento dentro da obra. Como uma pessoa constantemente em crise existencial, eu consigo abraçar bem o seu sentido, mas não posso deixar de compreender que ele não funciona tão bem com todos os públicos.

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