Crítica | Homens de Barro

Homens de Barro (Argentina e Brasil, 2025)

Título Original: Homens de Barro

Direção: Angelisa Stein

Roteiro: Gonzalo Heredia e Fernando Musa

Elenco principal: Bruno Fernandes, Gui Mallmann, Alexandre Borin, Mariana Catalane, João Pedro Prates, Artur Gaudenzi e Enzo Behrens Correa

Duração: 72 minutos

Distribuição brasileira: O2 Play

A LGBTfobia infelizmente é um grande problema no Brasil. Apenas em 2023, tivemos 230 mortes ligadas ao preconceito, sendo que a esmagadora maioria está relacionado às mulheres trans e travestis. Logo, ao se pensar em fazer um filme ligado ao tema, é necessário pensar bastante na sua relevância e responsabilidade ao tratar do assunto.

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A obra, que foi realizada de maneira independente, trata uma relação intergeracional no interior do Rio Grande do Sul. Começamos acompanhando duas famílias que se tornam inimigas por trabalharem no mesmo ramo, a produção de tijolos através de olarias. Compreendemos como a vida dos filhos é afetada pelo desafeto entre os pais, e em seguida somos levados ao momento em que eles crescem e passam a construir os seus próprios vínculos. Aqui, tentarei dar um pequeno spoiler da maneira mais genérica possível para não estragar a experiência de quem vai ao cinema, mas com algo que é necessário para escrever uma crítica: acontece um romance entre dois rapazes, e isso acaba levando a uma grande tragédia.

É claro que a tragédia é utilizada como uma lição de moral para deixar claro que os preconceitos não levarão as pessoas a lugar algum. Mas colocar essa narrativa em perspectiva e confrontá-la com a realidade do país faz com que se repense sobre a necessidade de representação nas telas de um assunto sensível de maneira tão violenta. Por mais que seja óbvio que saibamos que casos como esse podem acontecer, é muito estereotipado pensar que essa seria a maior maneira de apresentar a problemática do trauma geracional, existindo muitas soluções menos apelativas para o assunto. Por mais que ele funcione para uma parcela pequena da sociedade que pode assistir à obra e levá-la como um conto caucionário sobre os males da lgbtfobia, ele ignora a sua própria comunidade, que está cansada de estar em telas em papel de vítimas de crimes.

Pensando na estrutura fílmica da obra, também percebe-se que há dificuldades em conseguir manter a qualidade audiovisual a partir das primeiras cenas, quando a narração é utilizada de maneira confusa e excessiva. Ao invés de facilitar a compreensão, as informações dadas pela voz em off apenas reforçam os acontecimentos em tela. Sem um verdadeiro ganho na utilização de um recurso tão presente, já há uma dificuldade em criar a conexão com a obra, algo que apenas se destaca com o correr do filme.

Há problemas técnicos que são inerentes ao cinema independente, como a captação de áudio que falha em algumas cenas e a trilha sonora diegética nas cenas dentro do bar que só foi utilizada por questões de direitos autorais. Ainda assim, nada seria tão grave se não houvesse esse grande problema discursivo que acaba fazendo com que todos os detalhes negativos da obra saltem mais aos olhos. Em momentos como quando ocorre uma violência sexual a uma mulher que é tratada apenas como um recurso narrativo, sem nenhum aprofundamento em toda a problemática envolvida, a romantização de um assunto extremamente sério se torna bastante clara. Mesmo que as atuações tenham um papel importante e funcionem de maneira carismática, isso não é o suficiente para se esquecer os problemas do longa-metragem.

O resultado é uma obra mediana, mas que esquece de revisar a imagem que está passando da comunidade que ela parece querer proteger.

1 comentário em “Crítica | Homens de Barro”

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