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13º Olhar de Cinema | Crítica | Eu Não Sou Tudo Aquilo Que Quero Ser

Foto do escritor: Carol BallanCarol Ballan

Eu Não Sou Tudo Aquilo Que Quero Ser (República Tcheca, Eslováquia e Áustria, 2024)


Título Original: Jeste nejsem, kým chci být

Direção: Klára Tasovská

Roteiro: Klára Tasovská e Alexander Kashcheev

Elenco principal: Libuse Jarcovjakova

Distribuição brasileira: Atualmente sem distribuidora oficial

Duração: 90 minutos


Como fazer um filme sobre uma vida? Esse é um difícil questionamento que Klára Tasovská se faz quando decide fazer o documentário sobre a fotógrafa Libuse Jarcovjakova e a sua prolífica obra. Fazendo então o recorte de terminar com a queda do muro de Berlim e tendo acesso a todas as fotografias e diários de sua personagem, Klára cria uma obra que consegue fazer acontecer a magia audiovisual - mesmo trazendo apenas fotografias.


fotografia tirada por Libuse Jarcovjakova

Uma infinidade de imagens nos é mostrada, de maneira cronológica, falando desde as primeiras fotografias de Jarcovjakova até esse momento. De suas escapadas da República Tcheca para o Japão durante o período em que se necessitava de uma permissão para fazê-lo, e chegando a temas que vão da descoberta de sua sexualidade até o aborto e a quebra de todas as normas sociais, nós realmente mergulhamos em sua vida. Há uma certa falta de filtros em suas palavras, e que são perfeitamente traduzidas em suas fotos, que é hipnotizante ao espectador.


A maior questão ao entender a proposta do filme é como fazê-lo sem que ele se torne enfadonho em seus primeiros momentos. Não há a opção de criar novas imagens para ocupar espaços que possam faltar, então o primeiro trabalho é uma primorosa curadoria e pesquisa. Uma vez que isso é feito e se obtém um roteiro para os recortes do filme, resta escolher os momentos dos diários que acompanharão as imagens. E então, a adição dos sons que dão o dinamismo mostrado em tela e ajudam a manter o elemento audiovisual ainda mais vivo. Há poucas intervenções nas fotos, com um absoluto respeito ao material original.


Os poucos elementos que se têm à mesa precisam ser otimizados - e são. Da adição de alguns personagens recorrentes, os amigos da fotógrafa, aos retratos e narrações de festas muito loucas com pequenas piadas, compreende-se o quanto da vida e das descobertas dos anos estão presentes em cada fase de sua obra. E, mais do que isso, a escolha em manter apenas uma voz, a dela, lembram a solidão de ser uma pessoa LGBTQIAPN+ em um contexto como a Praga soviética. Com esse elemento em mãos, consegue-se seguir a sua linha de raciocínio, gerando um pensamento dissidente do normativo.


É difícil não pensar em Orlando, Minha Biografia Política (Paul Preciado, França, 2023) no sentido de que alternativas criativas de representação são utilizadas, cada uma com o seu sentido político e particular e com a linguagem que melhor as representa. E em um momento no qual as cinebiografias parecem cada vez mais quadradas e tediosas, é um feliz respiro ver tamanha engenhosidade.


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