O Canto das Margaridas (Brasil, 2024)
Título Original: O Canto das Margaridas
Direção: Mulheres do Audiovisual PE
Roteiro: Mulheres do Audiovisual PE
Elenco principal: Sem dados na programação oficial
Distribuição brasileira: Atualmente sem distribuidora oficial
Duração: 80 minutos
O documentário é perfeitamente colocado dentro das mostras paralelas com o foco de cinema de luta. Em primeiro lugar, por misturar o modo de fazer coletivo do cinema com o trabalho do coletivo Mulheres do Audiovisual PE, com uma autogestão e as decisões coletivas sendo colocadas como essenciais. Em segundo lugar, pelo seu assunto. A Marcha das Margaridas acontece a cada quatro anos e reúne mulheres do campo, da floresta e das águas em Brasília, com nome homenageando Margarida Alves, sindicalista assassinada nos anos 1980.
Assim, forma e conteúdo conseguem criar uma gigante sinergia. Se percebemos que diversas mulheres estão por trás das câmeras, também vemos que elas têm uma ideia muito clara de querer retratar essas outras mulheres e a sua luta. Então, acompanham todo o processo de ônibus saídos de Pernambuco até Brasília, registrando os acontecimentos. Importante dizer que essa marcha aconteceu em 2019, antes da pandemia e quando o Brasil já estava sob gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Com um histórico de perseguição e agressão às minorias, havia uma apreensão de como a marcha seria recebida.
Há um trabalho delicado de conseguir retratar uma grande quantidade de mulheres pelo menos nomeando a maior parte delas e mostrando suas lutas e histórias pessoais, e mostrando como isso é parte de uma necessidade coletiva. É necessário ressaltar que apesar de isso ficar bastante claro, é feito às custas de um dinamismo na obra. Todos os seus atos são um pouco alongados, e por mais que se compreenda que isso é feito em respeito ao que está sendo retratado, cria-se um longa-metragem curto em duração, mas com o ritmo lento.
As cenas mais significativas que são captadas são também um reflexo da realidade das realizadoras: os momentos de cuidado e afeto entre mulheres. Seja quando duas amigas que só se veem duas vezes ao ano se encontram, ou quando as mulheres se alternam para massagear os pés cansados das outras, é esse espaço seguro que parece a pérola preciosa da obra. Como a Marcha tem o interesse de prolongar essa sociedade utópica, e o próprio coletivo acredita nessa convivência mais pacífica e igualitária, eles aparecem como um possível resultado das ações propostas por ambos.
Mesmo havendo uma grande dificuldade em criar um recorte das narrativas que faça com que o filme ganhe mais potência, o longa-metragem cumpre a sua função de ser um cinema de luta feito por mulheres e sobre mulheres.
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