O lançamento de A Baleia ter ocorrido próximo ao Batem à Porta no Brasil levanta uma questão já excessivamente debatida ao se falar sobre filmes: a espécie de fã-clubes, ou clubes de ódio, em torno de diretores. Se há quem afirme que Shyamalan não dirige um bom filme desde O Sexto Sentido assim como quem diga que todas as suas obras são absolutamente perfeitas. O mesmo ocorre com Darren Aronofsky, cuja carreira envolve filmes polêmicos e críticas relacionadas à plágio.

A Baleia é o seu retorno ao papel de direção anos após Mãe!, lançado em 2015, sendo que nesse hiato ele esteve na produção de projetos de todos os gêneros, chegando até ao documentário brasileiro O Território (2022). Ele marca internacionalmente a parceria com a produtora A24, que tem sido reconhecida tanto em premiações de grande indústria como nas de cinema independente. No Brasil, a distribuição é realizada pela Califórnia Filmes. Além disso, também é um grande retorno de Brendan Fraser, cuja carreira esteve em hiato desde os anos 2000 e recebe novamente um papel como ator principal.
O enredo se desenvolve ao longo de menos de uma semana da vida de Charlie (Brendan Fraser), um homem com obesidade mórbida que dá aulas de Inglês pelo seu computador. Ele apresenta um retrato das gordofobias sofridas, que vão do desconforto ao usar a webcam até a reação de sua filha Ellie (Sadie Sink), que não o via desde os oito anos e aparece em sua casa, criando uma possibilidade de reconexão. Há ainda outras camadas, como a relação com sua melhor amiga Liz (Hong Chau) e as visitas de Thomas (Ty Simpkins), um missionário que tenta convertê-lo.
Apesar do excesso de temas abordados, a atuação de todos, mas principalmente de Fraser, é um elemento que trás coesão à obra, tornando-a intimista. Se passando praticamente em uma locação como consequência de ser uma adaptação de peça teatral, a maior parte da obra se concentra nos diálogos e reações. A expressão de Fraser compensa o uso de som que torna o filme exagerado em sua representação de pessoa gorda, como ao aumentar o som de cada um de seus passos. O roteiro foca em uma mensagem quase onírica sobre a humanidade, o que é um grande acerto, diminuindo alguns de seus pontos negativos.
Em partes, a imoderação que é característica do diretor age contra sua própria obra, como ao acrescentar um excesso de camadas que não conseguem se desenvolver, ainda que se compreenda que tudo gira em torno da temática da empatia e do amor próprio - ou a falta dele. Além disso, ao pensar que se trata de uma adaptação de obra teatral (com o roteiro adaptado pelo escritor da obra, Samuel D. Hunter), o excesso de clausura é desconfortável ao espectador de modo que ele lembre que se trata de uma adaptação, e não criando a atmosfera reclusa que a obra e personagem merecem.
Um elemento em particular que enerva a audiência é o uso de Moby Dick, ou melhor, uma crítica sobre o livro, sendo utilizada como subterfúgio em um filme que trata da realidade de um homem gordo. A comparação da vida de Charlie com a das baleias descritas é simples demais, parece explicar excessivamente a metáfora que tenta construir. Isso somado às muitas cenas do personagem realizando atos cotidianos de maneira hercúlea ressaltam a obviedade de que se trata de uma pessoa obesa.
Aos poucos, o que poderia ser um filme grandioso se torna apenas médio por conta desse peso mal distribuído ao longo de suas quase duas horas. Novamente, o diretor se encaixa no estereótipo criado sobre ele e não consegue adaptar seus trejeitos a uma maneira mais eficiente e comovente de contar a sua história.
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