top of page

A Fantástica Fábrica de Golpes (Victor Fraga e Valnei Nunes, 2021)

Foto do escritor: Carol BallanCarol Ballan

Desde a retirada do poder da presidenta Dilma Rousseff através de um golpe em 2016, o cinema vem sendo um grande aliado na compreensão da situação brasileira. Do indicado ao Oscar Democracia em Vertigem, passando por O Processo e chegando ao mais recente Alvorada, houve muita movimentação para criar documentários que buscassem abranger toda a movimentação política pela qual estamos passando. E, nesta mesma leva mas com o foco específico nas eleições de 2022, A Fantástica Fábrica de Golpes explora as estruturas que permitem toda esta instabilidade.


Realizado pelos diretores estreantes Victor Fraga e Valnei Nunes, o documentário tem êxito em criar uma linha narrativa clara e encontrar entrevistados relevantes aos temas abordados, como o vencedor do Prêmio Nobel da Paz Adolfo Perez Esquivel e o jornalista Glenn Greenwald. Dividido em capítulos, o grande questionamento trazido é sobre o efeito e importância dos grandes conglomerados de mídia no ocorrido com Roussef e a consequente ascensão de Jair Bolsonaro.


Até certo momento o longa-metragem parece uma atualização do documentário Muito Além do Cidadão Kane, ainda mais considerando a participação de seu produtor John Ellis entre os entrevistados. Feito pela BBC britânica para discutir a estrutura da mídia brasileira, a crítica por ele realizada principalmente à figura de Roberto Marinho é repetida e trazida para os eventos ocorridos após 1993, ano de sua realização. O assunto somado à narração do diretor dos fatos principais e os enquadramentos mostrando apenas o torso dos entrevistados gera um tom inicial quase educativo, mas que funciona devido ao conteúdo complexo e sensível.


Mas é justamente quando o filme se afasta um pouco da interpretação mais direta e sua necessidade de passar uma mensagem concreta que ele se torna mais interessante como obra audiovisual do que apenas como veículo informativo de uma denúncia (que é, sim, muito necessária). Ao mesclar o áudio de entrevistas com cenas de manifestações ou até mesmo com a fabricação de panelas, cria-se mais uma camada de significado daquilo que está se dizendo, e o espectador tem mais espaço para a interação com a obra. O mesmo efeito é alcançado através da trilha sonora, principalmente nas interpretações de Francisco El Hombre e Josyara das canções de Chico Buarque, cantor e compositor também entrevistado, dada a sua relevância durante a ditadura e o movimento Diretas Já.


Em seus primeiros minutos, o filme mostra exatamente a sua mensagem através da manipulação jornalística que é utilizada para gerar manchetes alarmantes. O uso das músicas populares e tirinhas é um contraponto perfeito, apontando que há esperanças fora das mídias tradicionais - ainda que o acesso à mídia alternativa ainda seja muito pouco difundido. Repete-se uma mensagem essencial, mas que poderia se aprofundar mais nas sutilezas do formato para criar um impacto ainda maior. Percebe-se uma movimentação da mídia internacional diante do filme, mas na realidade é a sua distribuição dentro do mercado interno que poderá difundir a mensagem do diretor que, como eu, teme pela fragilidade da democracia perante as eleições presidenciais de 2022.

0 comentário

Comentários


Formulário de inscrição

Obrigado(a)

11985956035

©2021 por No Sofá Com Gatos. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page