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A Farsa (Nicolas Bedos, 2022)

Foto do escritor: Carol BallanCarol Ballan

Com Belle Époque e Monsieur & Madame Adelman em seu currículo como roteirista e diretor, é esperado que seus lançamentos sejam aguardados e, normalmente, também premiados. Falando sobre uma França moderna, mas através de críticas estruturais escondidas em camadas de humor, A Farsa (Diamond Films), nova obra de Nicolas Bedos,consegue divertir o espectador na medida em que ele começa a compreender as camadas de golpes e situações complexas que os personagens estão submetidos.


É interessante que o primeiro letreiro, no início do longa, já deixa claro que haverá um destino trágico - afinal, nada de bom ocorrerá na Riviera Francesa. Logo somos apresentados aos fios condutores da trama, que são as personagens principais. Adrien (Pierre Niney) é rapidamente mostrado como um rapaz jovem e bonito que busca mulheres mais velhas para sustentar o seu estilo de vida luxuoso. Ele vive com Martha Duval (Isabelle Adjani), uma atriz um pouco esquecida e que se pauta mais em sua vida social do que em trabalhar. O grande ponto de partida é o momento que Adrien conhece Margot (Marine Vacth) em uma festa, e se atrai por sua impulsividade e facilidade para realizar golpes.


Em um primeiro momento, fica claro que o relacionamento está fadado ao fracasso, dado que ambos dependem de terceiros para poder manter seu estilo de vida. No desenrolar da trama, à medida que eles passam a se conhecer melhor e dividir questões mais profundas, até acredita-se por alguns instantes no amor. Mas o espectador sempre acaba sendo lembrado que aquela é uma grande farsa, não havendo escapatória para quase ninguém.


Apesar das excelentes locações que são destacadas por uma fotografia eficiente, é a combinação entre roteiro intrincado e atuações excelentes que garantem o sucesso do filme. A fotografia utiliza bem seus recursos, com muitos planos abertos que destacam a grandiosidade tanto da natureza quanto da casa de Martha. Ao mesmo tempo, quando se aproxima dos momentos mais íntimos da relação entre Adrien e Margot, sendo eles sexuais ou não, costuma-se utilizar planos fechados, que combinam com a necessidade de sigilo exigida pela situação. Isso não é, no entanto, um grande destaque do filme, com a fotografia e cenografia sendo eficientes para permitir o andamento da história, mas em um equilíbrio na qual elas não se destacam.


Se há algumas críticas bastante claras, como a própria relação a partir de interesses entre Adrien e Martha, há outras camadas de significados que são mais ocultas e interessantes. Uma questão de partida é a situação de Martha, que como atriz mais velha foi abandonada pelo segmento e, por não conseguir trabalhar, entra no ciclo vicioso de precisar ser vista. Acrescenta-se aqui a falta de empatia entre todos, sendo que o impacto na vida alheia nunca é levado em consideração nas tomadas de decisões.


Há muitos outros atores e atrizes respeitados que fazem pequenas aparições no filme, indicando a sintonia entre o cinema que Bedos está realizando e aquilo que é esperado do cinema francês. Sem o grande apego à fórmula de Hollywood, mas com charme e estilo, cria-se a partir do que há de pior nas relações interpessoais. A falta de apego à fórmula é boa na medida em que incentiva cinemas independentes, mas nessa obra, em particular, poderia ter auxiliado em seus últimos minutos. Com a mistura de flashbacks e cenas do tribunal, chega-se um momento em que não se compreende mais exatamente como o golpe se desenrolou.


Seja por conta das boas atuações ou de aproveitar um roteiro que desafia o espectador ao invés de apenas servi-lo, é mais uma obra do diretor que mostra a sua tendência a permanecer relevante no mercado. Agora, dado seu novo projeto para televisão, provavelmente veremos o seu talento em enganar os espectadores em uma versão alongada, sendo bastante promissor.

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