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Cordialmente Teus (Aimar Labaki, 2022)

Foto do escritor: Carol BallanCarol Ballan

A relação entre Teatro e Cinema é discutida desde o início da Sétima Arte, ainda na época em que as câmeras de filmagem eram fixas e a encenação dos dois era mais similar. Com os anos de evolução de técnicas e equipamentos, muito dessa relação foi perdida. No entanto, em situações como a do dramaturgo Aimar Labaki, conhecido por seus textos teatrais, escrevendo e dirigindo seu primeiro longa-metragem, essa lacuna se encurta, em um resultado atrativo ao público.


Com dez tramas curtas mostrando diferentes momentos da história brasileira, é impressionante o trabalho de pesquisa e de caracterização das personagens. A escolha entre momentos mais conhecidos como a Segunda Guerra Mundial misturados a outros eventos, como a perseguição aos judeus durante a Inquisição, permitem que o filme cumpra muito bem a sua função de entrelaçar todos os segmentos a partir de um traço em comum: a violência.


A escolha pelo uso de enquadramentos estáticos é algo que retoma a tradição teatral, na medida em que os diferentes enquadramentos lembram aos espectadores a potência da linguagem cinematográfica. O uso dos cenários variados segue nesta brincadeira, usando simultaneamente cenários estáticos para cada cena (o porão, a mesa de jantar, a floresta) mas que são bem construídos e mostram as diferenças entre as épocas e status social de cada uma das situações. Essa reflexão ocorre também no texto, que trabalha com a formalidade ou informalidade de cada situação, línguas faladas, sotaques, e utiliza um ritmo de fala cadenciado, que novamente lembra a declamação teatral.


Vêm também de suas experiências prévias de trabalho parte do elenco, que mescla atores e atrizes de teatro e de cinema. Devido à linguagem proposta, há algo mais ritmado e poético que funciona a favor do filme e das parábolas que deseja contar. Observar os diversos graus de estranhamento, quando mais distantes da linguagem coloquial atual é uma experiência agradável ao espectador, gerando humor em algumas cenas. A qualidade das atuações é excepcional, com esse sendo o fator que permite a identificação com as emoções mostradas em todos os segmentos, mesmo que distantes da nossa realidade.


Ainda sobre a linguagem e atuações, o humor é bem utilizado, equilibrando a crítica social apresentada no filme, ou mesmo as cenas mais pesadas. Há momentos mais sombrios, mas normalmente intercalados com segmentos mais leves que permitem ao espectador recuperar o fôlego para permanecer assistindo. O humor, somado a todos os elementos apresentados, cria uma obra bastante autoral de Labaki, algo raro ao dirigir um primeiro longa-metragem. Se é possível pensar em um momento em Relatos Selvagens a partir da sinopse do longa, é a direção que o torna extremamente brasileiro, com suas qualidades e defeitos.


É um momento feliz para o cinema nacional, que com filmes como A viagem de Pedro e Joaquim consegue fazer releituras de seus momentos históricos com o viés do Brasil atual e aqui, extrapola até para o futuro. Por mais que a mensagem final seja dolorida, é impressionante como ele a transmite com leveza, com seu eco permanecendo por dias com o espectador.

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