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Crítica | 48a Mostra | Memórias de Um Caracol

Foto do escritor: Carol BallanCarol Ballan

Memórias de um Caracol (Austrália, 2024)


Título Original: Memoir of a Snail

Direção: Adam Elliot

Roteiro: Adam Elliot

Elenco principal: Eric Bana, Sarah Snook, Kodi Smit-McPhee, Jacki Weaver, Dominique Pinon, Magda Szubanski e Nick Cave

Duração: 94 minutos


Mary & Max - Uma Amizade Diferente fez um grande barulho em sua estreia em 2009. Agora, 15 anos depois, o diretor Adam Elliot retorna com mais uma dose de fofura, estranheza e drama em stop motion.


grace e pinky secando o cabelo em memórias de um caracol

As primeiras cenas do filme, que apresentam uma Pinky (Jacki Weaver) já quase morrendo e deixando a protagonista Grace Pudel (Sarah Snook) sozinha, mostram qual será o tom do filme. Na questão da animação, entrega o visual altamente estilizado que acompanha toda a obra, com formas exageradas combinando com olheiras profundas e todo tipo de detalhe possível, criando um cenário que ao mesmo tempo em que emula um realismo, é por si só completamente surreal. Já pensando em narrativa, o tom adulto também já se coloca, com o drama existencial de ter um último amigo morrendo. Por fim, também fica claro o tom de comédia, com a senhora quase renascendo para dar seu último suspiro falando: “As batatas!”.


É dessas peculiaridades que o filme extrai a sua força. A personagem principal é uma mulher que passou por todas as desventuras possíveis, assim como todos à sua volta. Aos poucos, percebe-se uma miséria comum a todos os descritos no filme, sendo eles pessoas bastante marginalizadas - e bem neuroatípicas, como qualquer neuroatípico facilmente irá reconhecer. Essa também é uma das características presentes no trabalho anterior de Adam Elliot, mas repetida de uma maneira bastante diferente em suas peculiaridades. Aqui, como na vida fora de telas, o que é diferente é sempre considerado algo ruim, sendo apenas uma rede de apoio capaz de auxiliar a passar pelos momentos mais difíceis da vida. E, novamente, ele reforça a importância desse acolhimento e compreensão profunda que só pode se dar a partir de relações humanas.


Tudo isso é auxiliado por uma técnica primorosa. Se em um primeiro momento pode ocorrer um estranhamento por conta da menor quantidade de falas - causada principalmente por uma questão orçamentária, dada a dificuldade em criar sincronismo entre a voz e a boca dos personagens, aos poucos vamos nos preenchendo pelo mundo cheio de texturas que é apresentado. Entre os pequenos caracois e o grande deserto australiano, são os detalhes que trazem a realidade ao fruto da imaginação de um homem.


Com esse tragicômico que manipula positivamente o espectador para rir e chorar quase na mesma cena, o diretor e roteirista transmite uma mensagem positiva, ainda que dolorosa de assistir. A sua classificação indicativa de 18 anos pode parecer severa em um primeiro momento, mas com o andar narrativo percebe-se que além dos acontecimentos opressivos e assustadores, há a necessidade de certa maturidade para a compreensão da obra. Possivelmente também é uma obra tão cheia de detalhes e humanidade que conseguirá dialogar profundamente com cada espectador a partir de seu viés de vivências.


Mesmo com a completa falha do Estado com essa família, o filme se encerra com uma sensação satisfatória de que se compreendeu algo novo sobre a experiência universal de ser humano. Ainda que em um cenário ideal precisaríamos de menos de 15 anos para ver um novo filme do diretor, o resultado desses anos de trabalho é realmente uma obra-prima.


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