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Crítica | Amanhã

Foto do escritor: Carol BallanCarol Ballan

Amanhã (Marcos Pimentel, 2023, Brasil)


Nome Original: Amanhã

Roteiro: Não Creditado

Com: Cristian de Miranda, Cristiana Santos, Júlia Maria

Distribuição brasileira: Descoloniza Filmes

Duração: 106 minutos


Juntar crianças de realidades socioeconômicas brasileiras distantes parecia muito mais possível em 2002, ano em que as primeiras imagens do documentário foram gravadas, do que no 2024 atual. Por motivos que o próprio filme se mostra ciente e cita, como a recente polarização partidária com o levante da extrema-direita ou o aumento da desigualdade social, os vinte anos de transformação levaram a um extremo inesperado. Ainda assim, o formato e a visão do diretor se aproveitam da situação de maneira inteligente para escancarar esses acontecimentos.



A ideia é relativamente simples: apresentar Júlia e Cristian, duas crianças da periferia de Belo Horizonte, para Tomás, criança com pais de classe média. Deixá-los interagir, se divertir, e aproveitar a inocência da infância para diminuir os preconceitos existentes. Anos depois, coletar novos depoimentos para buscar entender como essas diferenças se comportaram ao longo dos anos. E se a ideia parece simples, a execução já parece dificílima em questões de produção: como manter o contato com essas crianças enquanto elas crescem, a incerteza da sua participação no futuro, a necessidade de não interferir em suas vidas e gerar um resultado muito artificial. Até mesmo os incentivos ao audiovisual e valores de equipamentos atuam de forma que o diretor não poderia controlar, criando dificuldades inevitáveis e incontornáveis.


Uma primeira qualidade do documentário é a sua transparência em relação a este processo, desde explicar aos espectadores quando os planos divergem do esperado até ao explicitar algumas atitudes que parecem contraproducentes ao projeto pelo cuidado com os humanos que estão sendo retratados. Há uma necessidade de compreensão do projeto de um ponto de vista de experimento sociológico, e ele se mostra ciente disso e consegue fazê-lo de maneira eficiente. Propositalmente, não vou explorar em texto quais são as mudanças de vida apresentadas, até por respeito à narrativa do filme e sua dificuldade em ser realizado. Para isso, é essencial assisti-lo e compreender como ele apresenta esses elementos.


Resta ao documentarista acompanhar seus objetos e tentar compreender como essas vidas mudaram ao longo dos anos, além de documentar isso de maneira respeitosa. Ao fazer os esforços para acompanhar o ritmo que os retratados se mostram disponíveis e não tentar acelerar o processo excessivamente, há a beleza da descoberta dos pormenores das vivências e particularidades que tornam a obra ainda mais interessante. Há momentos de discussões políticas mais acaloradas entre os irmãos, há momentos de mostrá-los em seus melhores e piores momentos - ou seja, há uma oportunidade bem realizada de explorar a humanidade em todas as suas complexidades.


Ainda que o filme não tenha o valor científico que muitos espectadores vão querer ver nele, existe um gigantesco valor de documentação de uma mudança de mentalidade que ele faz questão em explicitar.  Ele admite seus deslizes, como a falta de dinheiro para completar o projeto de maneira idealizada, ou o fato de ser um homem de classe média apresentando todo esse projeto que expõe uma periferia. Mais do que isso, ele apresenta algumas soluções que apenas o tempo poderia trazer, como o envolvimento de pessoas da comunidade da Barragem de Santa Lúcia nas filmagens mais recentes. Ele mesmo acaba sendo a prova da mudança de tempos que tenta retratar em tela.


A proposta simples com boa execução acaba trazendo ao espectador alguns questionamentos que não morrerão com o final do filme. Com isso, também alcança seus objetivos como documentário.



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