Trazer animais como ameaças em filmes de terror não é novidade mesmo antes de Steven Spielberg fazer seu Tubarão lá em 1975, e de fato esses animais nem sempre podem ser colocados como vilões da história, já que na maioria das vezes eles estão apenas vivendo suas vidas até que as pessoas invadem seus habitats por algum motivo. Ainda assim, aqui e ali alguém decide rebuscar um pouco mais o roteiro e trazer alguma ideia mirabolante, como é o caso de Sting: Aranha Assassina (Sting). Afinal, por que fazer apenas uma aranha gigante quando ela pode ser gigante e alienígena?

Apesar da ideia, Sting não faz muito para ir além do que já se espera em produções desse tipo. Não demora mais de 5 minutos de filme para o diretor Kiah Roache-Turner nos apresentar todos os personagens – e vítimas em potencial – dessa história, sejam eles humanos ou animais de estimação, e também o cenário geral em que a obra irá se passar: um prédio velho de Nova Iorque com tubulações de ar gigantes que a protagonista Charlotte (Alyla Browne, de Furiosa) usa para andar escondida pelo lugar.
Tudo isso enquanto uma nevasca segue caindo sobre a cidade deixando todos isolados com a tal aranha que veio do espaço e que aterrissa em uma casa de bonecas gerando, possivelmente, o momento mais inspirado do filme.
A partir daí, Roache-Turner segue uma cartilha do gênero sem deixar de brincar com seu "bichinho de estimação” sempre que pode. Enquanto tenta construir uma atmosfera de tensão com base nas boas mortes – que apelam mais ao incômodo pelo grotesco do que realmente ao medo da aranha em si –, o diretor pontua aqui e ali a presença do aracnídeo com sombras de objetos e sons que vão alimentando certa paranoia no espectador que está mais ciente da ameaça do que os próprios personagens por boa parte do filme. Claro, pouco disso funcionaria sem um elo genuíno com os personagens, e para isso o diretor traz não apenas a simpática Charlotte, mas também seu padrasto Ethan (Ryan Corr), um aspirante a quadrinista que trabalha como zelador enquanto não consegue emplacar o trabalho dos sonhos.
Se a relação da dupla parece incrivelmente genuína tanto nos momentos de afeição quanto nos desentendimentos, a forma como o filme desenrola este e outros dramas parece forjada demais, como que para mostrar que Sting pode ser um filme mais complexo do que realmente é. E tudo bem se estivéssemos apenas falando da relação pai-filha entre esses dois personagens, mas incomoda notar – principalmente na segunda metade – como o filme quer emplacar um número maior de dramas do que uma aranha tem de patas. Deixa a sensação de que tudo isso está ali apenas para preencher a obra quando não estamos assistindo aos ataques de Sting, mas falta uma cola – ou uma teia – para ligar os diferentes tons do filme.
Dessa forma, por vezes Roache-Turner parece querer seguir por este lado mais profundo, enfatizando as relações dos personagens com a ameaça de Sting, que pode atacar qualquer um a qualquer momento. Já em outro, o diretor veste seu filme com um ar um pouco mais caricato, quase cômico, que o aproxima dos famosos trashs dos anos 80 e 90, embora melhor executado que muitos graças a boa combinação de efeitos práticos com computação gráfica. Elesgeram bons momentos, principalmente quando o diretor aproveita a claustrofobia gerada pelas inúmeras cenas em lugares apertados, além de uma boa inserção do filme na cultura pop com um olhar aguçado para referências, como o nome da aranha – extraído diretamente de O Hobbit – ou com uma frase dita por um personagem que remete ao clássico O Predador.
Nada disso, entretanto, é um fator determinante para colocar Sting: Aranha Assassina no hall da fama dos filmes de terror com animais, principalmente se olharmos como o diretor lida com gênero de forma mais direta quando a muleta dramática é chutada para fora de cena. Resta então tentar curtir o que sobra enquanto o filme busca suas próprias soluções absurdas e apressadas para resolver os conflitos antes do desfecho com a cena obrigatória que justifique uma sequência – regras de Hollywood, certo? – com ainda mais aranhas gigantes. Mas até lá, vamos ter que nos “contentar” com as de tamanho normal por aqui.
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