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Crítica | TIFF | Emilia Pérez

Foto do escritor: Carol BallanCarol Ballan

Emilia Pérez (França, 2024) 


Título Original: Emilia Pérez

Direção: Jacques Audiard

Roteiro: Jacques Audiard, Thomas Bidegain e Nicolas Livecchi

Elenco principal: Zoe Saldana, Karla Sofía Gascón, Selena Gomez, Adriana Paz, Edgar Ramírez, Mark Ivanir, Eduardo Aladro e Emiliano Hasan

Duração: 130 minutos


Um diretor francês dirigindo e escrevendo um musical sobre um chefe do tráfico mexicano que finge sua própria morte para poder seguir a vida que sempre desejou como uma mulher trans. Essa chamada tem todo o potencial do universo para se tornar uma trama completamente problemática, mas graças a uma aproximação surpreendente de questões de gêneros e um elenco excelente, Emilia Pérez consegue cativar seu público.


Zoe Saldana e Karla Sofía Gascón em cena de emilia pérez


Rita (Zoe Saldana) é uma advogada frustrada com sua vida trabalhando para homens que nunca lhe dão o devido favor. Assim, quando é realizada a proposta de Manitas del Monte (Karla Sofía Gascón) de ajudá-la no processo de mudar de vida para finalmente conseguir se expressar em seu gênero correto por uma quantidade altíssima de dinheiro, ela rapidamente topa. Mas nessa situação em telas, há dois elementos inesperados. O primeiro é a própria narrativa, que se torna cada vez mais profunda, e o segundo é que isso tudo seja apresentado em meio a grandes cenas de canto e dança dignas de musicais das eras áureas de Hollywood.


A maior questão da obra é que as suas cenas musicais são excelentes, milimetricamente pensadas e conseguem funcionar para levar o público numa longa viagem talvez inacessível com uma linguagem mais realista. Se exatamente o mesmo assunto fosse aproximado através de um drama clássico, tudo se tornaria inverossímil, mas tomamos a liberdade da extrapolação como público quando uma cena comum de repente se torna uma linda canção. Com isso,entendemos as questões outrora inacessíveis, como a necessidade dessa personagem de viver a sua vida como deseja e até o questionamento mais universal sobre as consequências de atos que tivemos no passado sendo parte do nosso presente tanto quanto a nossa versão amadurecida e que preferimos apresentar. Mais do que falar sobre a trajetória específica dessa mulher trans, o filme fala sobre as transformações de vida e de sermos responsáveis com as nossas emoções - e das pessoas que amamos.


Então, por exemplo, como uma espectadora latina, muitas vezes sinto uma raiva anticolonialista de ver uma apropriação de uma história que só seria possível no México sendo realizada por um diretor francês e, pior ainda, sendo gravada em estúdio na França. Mas por outro lado, sinto a felicidade que um filme que brinca com o gênero de novelas tendo absoluto domínio técnico sobre o que está em tela dosando o melodrama e dando voz às artistas latinas que estão ali, representando e cantando. O que traz a maior confusão é o quanto ele tenta abocanhar em uma só mordida, incluindo muitas subtramas sem sentido e que estendem a obra para além de uma duração ideal. O uso de Selena Gomez como um chamariz para o público também é estranho, com a atriz e cantora parecendo deslocada na obra na qual ela poderia se alocar perfeitamente.


A performance de Saldana em língua espanhola é incrível, em um papel com maior profundidade sentimental que os que estamos acostumados a vê-la, e ainda em outra língua. Além da sua habilidade em cantar e dançar que podem surpreender por ela não ser conhecida por isso, ela consegue trazer a complexidade e a profunda amizade que são necessários ao papel. Gascón é, por si só, um fenômeno. Ter uma atriz que fez uma transição de gênero tendo um papel como mulher trans já é um marco por si próprio, ainda mais pela obra não tentar estereotipá-la em relação ao gênero.


É feliz que o filme esteja levantando algumas bandeiras que podem ser essenciais para se criar um cinema cada vez menos LGBTQIAPN+fóbico, e o faça de maneira tão divertida quanto profunda. Ver como uma sociedade conservadora como a brasileira, que segue tacando pedra na Geni no século XXI, reagirá a ela, é uma curiosidade pessoal minha.


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