Uma Vida - A História de Nicholas Winton (James Hawes, 2023, Reino Unido)
Nome Original: One Life
Roteiro: Lucinda Coxon, Nick Drake e Barbara Winton
Elenco principal: Anthony Hopkins, Lena Olin, Johnny Flynn, Helena Bonham Carter, Tim Steed, Matilda Thorpe, Alex Sharp, Jonathan Pryce, Lena Olin
Distribuição brasileira: Diamond Films
Duração: 110 minutos
Existem algumas histórias reais que parecem ser feitas para a ficção. Nicholas Winton foi um britânico que estava na antiga Tchecoslováquia em 1938 e se deparou com famílias que estavam fugindo da ascenção nazista que estava acontecendo na Alemanha. Percebendo as suas situações de vida bem abaixo do ideal, ele se junta ao Comitê para Refugiados da Tchecoslováquia em uma tentativa de levar pelo menos as crianças do lugar para o Reino Unido, por meio de adoção. Sim, esta é literalmente a história real que o longa-metragem traz para a ficção.

Talvez o maior erro do filme seja a escolha do livro escrito pela filha de Winton, Barbara, como seu texto de base. Ainda que ela tenha tido uma visão privilegiada dos acontecimentos pela proximidade do pai, é perceptível que o filme se coloca apenas como uma homenagem em relação a uma construção de um herói nacional. Sua falta de grandes defeitos ou dilemas transparece o tom de homenagem ao invés de um maior realismo. Há uma falta de conflitos internos que não parece natural, sendo as dificuldades do filme sempre externas e impostas ao personagem. Ainda que essa possa ter sido a situação real, quando ficcionalizado, ele parece artificial.
O ponto alto do filme acaba sendo a atuação de Anthony Hopkins, que consegue criar uma dimensão adicional de inocência sobre as consequências dessa coragem ao personagem envelhecido. É necessário também dar os devidos méritos ao trabalho de edição, que consegue trabalhar com duas linhas do tempo de maneira assertiva e sem nunca distrair o espectador ao invés de trazê-lo para a trama.
Não podemos relevar que o filme está sendo lançado, pelo menos no Brasil, em um momento politicamente complicado, e logo em seguida a um dos filmes mais impactantes em relação aos absurdos do nazismo nos últimos anos, que é Zona de Interesse. É difícil não criar um diálogo entre eles, e a falta de um impacto formal mais direto leva a uma dificuldade em criar um impacto semelhante. Ainda que seja uma história bastante emocionante, seu formato a torna excessivamente melodramática em comparação. Isso se soma ao momento político atual, com a guerra acontecendo entre Israel e Gaza, e as infrações aos direitos humanos que estão acontecendo novamente, e o diálogo com a realidade dá um ar pessimista em relação ao quanto conseguimos evoluir como humanidade.
Para quem planeja assistir o filme e está lendo a crítica antes, é importante dar mais um aviso: tentem não assistir o trailer do filme antes. Ainda que seja uma história real e seja difícil não ter spoilers sobre o que acontece, o modo que o trailer foi editado tira todo o impacto da parte mais importante do filme. Para quem assistiu ao trailer, quando o filme acaba sobra apenas a sensação de que quase tudo já havia sido mostrado nos materiais de divulgação.
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