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Críticas a Dois | Instinto Materno

Carol E Jean

Instinto Materno (Benoît Delhomme, 2024, EUA)


Nome Original: Mother’s Instinct

Roteiro: Barbara Abel e Sarah Conradt

Elenco principal: Anne Hathaway, Jessica Chastain, Josh Charles,  Anders Danielsen Lie, Maylen D. Bielitz e Eamon Patrick O’Connell

Distribuição brasileira: Imagem Filmes

Duração: 94 minutos


Texto por Carol Ballan

Seguindo com a tradição estadunidense de refazer filmes em língua estrangeira em língua inglesa, o suspense homônimo de Barbara Abel ganha uma nova adaptação. Contando sobre a relação entre duas amigas que moram em casas vizinhas nos anos 1960 e com um trailer que mostra muito mais do que deveria, o filme independente com duas grandes atrizes da atualidade certamente chamará a atenção do público.

A premissa básica é promissora: duas melhores amigas, que têm filhos da mesma idade e compartilham suas intimidades, acabam tendo um rompimento quando o filho de uma delas morre em um acidente. Se inicia então um período de estranhamentos e paranóias movidas pelo luto e pela culpa, e não se sabe mais em quem se poderia confiar. Se bem executado, criando camadas de nuances e significados, ele poderia se tornar uma obra excelente, mas ao ficar apenas na superfície dos assuntos que ele tenta abordar, aos poucos ele perde seu brilho.


É difícil pensar em um filme com elenco tão renomado que não consegue avançar em se aprofundar no assunto de luto de uma mãe e paranóia de uma amiga. Mas as atuações são realmente o ponto mais elevado da obra, com subtextos criados em olhares e gestos de maneira que até cria o clima de suspense desejado. A maior dificuldade é lidar com um roteiro que deixa pistas sobre o mistério óbvias demais e alguns detalhes que fazem com que o espectador duvide da trama e acabe se descolando da suspensão de descrença necessária para suspenses funcionarem. De crimes que acontecem com uso de uma luva de couro até detalhes que, se mais sutis, poderiam causar maior impacto, percebe-se um potencial desperdiçado pelo excesso de exposição para quem assiste. Talvez estes sejam detalhes que fazem sentido dentro da narrativa do livro, mas que quando foram transportados para um conceito audiovisual, não conseguiram fazê-lo adequadamente.


Algo que impressiona na falta de cuidado com este roteiro é que as funções técnicas do filme funcionam muito bem. A fotografia segue planos mais simples, mas que não atrapalham no contar da história; a direção de arte é excepcional, principalmente na decoração de sets e figurinos; e a montagem é eficiente, mas também não se destaca. E ficando com tudo na média e um roteiro com defeitos, o filme acaba se tornando pouco memorável, ainda mais na carreira de um elenco de tanto peso.


Então, o filme se desenvolve com sua tentativa de criar um mistério, mas sem que os espectadores acreditem naquele suspense que ele tenta propor. Mesmo este sendo o primeiro trabalho de Benoît como diretor (ele geralmente atua no campo da fotografia), percebe-se que ele subestima o seu público. Mesmo a presença de estrelas não consegue fazê-lo brilhar.


Texto por Jean Werneck

Jessica Chastain e Anne Hathaway se unem em thriller psicológico sobre maternidade e traumas com o padrão do estilo de vida americano. 


Casadas, melhores amigas, donas de casa, vizinhas e mães. Celine (Anne Hathaway) e Alice (Jessica Chastain) têm a vida perfeitamente refletida uma na outra, até que uma tragédia quebra o espelho e os cacos de vidro da paranóia e desconfiança perfuram sua relação. Instinto Materno tem tudo que os fãs do cinema estadunidense amam: duas atrizes vencedoras do Oscar, meia dúzia de plot twists e diálogos extremamente autoexplicativos. 

O primeiro ato gira em torno da morte de Max, filho de Celine, o que seria chocante se não soubéssemos desse acontecimento desde a divulgação e trailer. Pela premissa, já se pode imaginar que o luto pela perda do menino é só o começo da história, e este começo é lamentável. Não falo só da tragédia ser lastimável, mas da construção cênica do momento em si. A cena da queda de Max é mal decupada e já coloca o fato central do roteiro como precário. Desse momento em diante, o filme passa por altos e baixos e oscila a expectativa de que ele possa ser mais do que um suspense qualquer sobre traumas psíquicos ou de que ele não consiga nem mesmo alçar esse posto. Afinal, dá para chamar Instinto Materno de suspense? O que era para ser surpreendente é óbvio. O que era para ser chocante é tedioso. O que era para ser dramático beira o tom cômico - me peguei rindo mentalmente de algumas cenas. Talvez o longa tente ser um suspense, mas nem por isso o é e acaba por ser um trabalho bem estereotipado do gênero. 


Outrossim, a cada vinte ou trinta minutos temos uma reviravolta na situação, como se o diretor tivesse medo de que o estímulo químico do plot-twist cessasse e o público fosse embora do cinema antes do filme acabar por falta de interesse. A cada nova virada o roteiro degola mais a sutileza com verborragias - garantindo que o público entenda com palavras o que havia acabado de ficar implícito - e sepulta qualquer subtexto existente com infinita literalidade. Frustrante. O diretor Benoît Delhomme, que até então só havia trabalhado como diretor de fotografia no cinema com filmes como Um Dia, O Menino do Pijama Listrado e A Teoria de Tudo, se preocupa mais em refinar a estética do que o conteúdo. Isso resulta em cenas com belo caráter fotográfico - como a que ele começa gravando as duas e vira a câmera revelando que estávamos vendo tudo através de um espelho, invertido -, mas sem impacto criativo real. Falta autenticidade para que ele nos convença que adaptou Instinto Materno para o cinema de forma instigante para a linguagem da sétima arte. 


A transformação de Anne Hathaway de uma dona de casa suburbana para uma serial killer não é nada crível. Assim como, suspeitar da personagem de Jessica Chastain por seu passado sem de fato conhecê-lo é ineficaz. Apesar de Instinto Materno ter tudo que um bom suspense pode ter, ele não é um bom suspense. 

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