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Críticas | Divertida Mente 2, Um Lugar Silencioso: Dia Um e Maxxxine

Foto do escritor: Jean WerneckJean Werneck

Divertida Mente 2 (EUA e Japão, 2024)


Título Original: Inside Out 2

Direção: Kelsey Mann

Roteiro: Meg LeFauve, Dave Holstein e Kelsey Mann

Elenco principal: Amey Poehler, Maya Hawke, Kensington Tallman, Liza Lapira, Tony Hale, Lewis Black, Phyllis Smith

Distribuição brasileira: Disney

Duração: 96 minutos


Assim como na mente da Riley, a ansiedade toma conta do controle da direção criativa da Pixar para fazer uma sequência à altura do antecessor. 


Com a chegada da adolescência a sala de controle passa por diversas mudanças, entre elas a chegada da Ansiedade e outras emoções. Alegria, Raiva, Tristeza, Nojinho e Medo entram em conflito com os novos moradores para proteger o Senso de Si de Riley enquanto um fim de semana decisivo se aproxima. 


divertidamentes em ação

Fazer continuações ou não fazê-las? Eis a questão. Lançado em 2015, Divertida Mente se tornou um sucesso absoluto do estúdio Pixar. Uma obra-prima do gênero das animações que desenvolve conceitos complexos da psicologia de forma lúdica, explorando a mente humana com muito bom humor. Nove anos depois, uma sequência é lançada e leva multidões de fãs de volta às salas de cinema. 


O primeiro longa abordou o acolhimento da tristeza como uma emoção tão legítima e necessária quanto as outras, sob a direção do experiente Peter Docter - nome por trás de clássicos como Up - Altas Aventuras, Toy Story e Wall-e. Já esse segundo longa coloca em destaque a ansiedade, uma emoção recorrente na sociedade acelerada em que vivemos, sob a direção do estreante em longas Kelsey Mann. 


Colocar dois filmes em comparação não costuma ser um exercício justo, contudo especificamente nesse caso se faz necessário. Isso porque parece que toda a concepção de Divertida Mente 2 foi baseada em reproduzir o feito astronômico do antecessor e, inevitavelmente, corresponder às expectativas dos fãs. O excesso de estímulos na narrativa, como a chegada de quatro novas emoções, piadas ininterruptas e um turbilhão de acontecimentos no interior e exterior de Riley bombardeiam o tempo de duração curto, mas distensivo de quase cem minutos. Parte disso pode ser justificado pelo contexto. Afinal, excesso é uma palavra que representa como é lidar com a adolescência e a ansiedade. Entretanto, a falta de equilíbrio nas sensações geradas resulta em uma sobrecarga de eventos que acabam por causar tédio ao invés de ansiedade, o que não permite que nossos próprios divertidamentes processem a experiência cinematográfica plenamente. 


Diferentemente do primeiro, esse segundo longa não encontra intervalos para dosar a proposta lúdica com a reflexiva, mas tenta fazê-las ocorrer simultaneamente, o que leva a um enredo megalomaníaco regado a planos da Ansiedade para proteger Riley do futuro incerto. Dessa forma, apesar de tratar de um período mais maduro da vida da protagonista, Divertida Mente 2 é mais infantil e simplório em seu desenvolvimento. O que se mantém igualmente atrativo é como os animadores ilustram conceitos abstratos como o fluxo de consciência, o senso de si e o brainstorm de modo palatável e criativo - mantendo a estética viva e rica em detalhes da animação 3D. 


Por fim, a ansiedade que domina a mente de Riley e a convence de que ela tem que ser extraordinária para ser aceita é semelhante a que domina a equipe da Pixar de reproduzir a fórmula do original para alcançar o mesmo sucesso nas bilheterias. O que prevalece em tudo é a mensagem de acolhimento. Independente da façanha realizada, a Pixar tem um lugar cativo no coração dos fãs por sua essência. 


Um Lugar Silencioso: Dia Um (EUA e Reino Unido, 2024)


Título Original: A Quiet Place: Day One

Direção: Michael Sarnoski

Roteiro: Michael Sarnoski, John Krasinki e Bryan Woods

Elenco principal: Lupita Nyong'o, Joseph Quinn, Alex Wolff, Djimon Hounsou, Eliane Uhumire e Alfie Todd

Distribuição brasileira: Paramount

Duração: 99 minutos


Retornando ao dia em que tudo começou, a franquia de ficção científica de sucesso coloca o suspense como coadjuvante das arestas de sua protagonista. 


No primeiro dia da invasão alienígena que silenciou o mundo, Sammy (Lupita Nyong’o) sobrevive a diversos ataques enquanto perde o pouco que lhe resta. Junto ao seu gato de apoio emocional, ela busca realizar um último desejo antes de aceitar a inevitável morte. 


seria um gato uma boa companhia para o fim do mundo?

Saindo do núcleo familiar de sobreviventes encabeçado por John Krasinski e Emily Blunt dos dois primeiros longas, Um Lugar Silencioso: Dia Um traz uma personagem principal complexa que já lidava com o risco iminente da morte antes mesmo da chegada dos extraterrestres em Nova York. Sammy enfrenta um câncer terminal que drena lentamente sua vontade de viver. A solidão e a desilusão de ver a morte diante dos seus olhos todos os dias a torna uma mulher anti-social e intolerante com o mundo e a humanidade. 


O diretor Michael Sarnoski explora isso em temática e formalmente como centro norteador do longa com fundo no apocalipse que conhecemos das outras produções do universo de Um Lugar Silencioso. O poema lido pela protagonista na cena de abertura com desgosto por seus colegas do hospital de recuperação e a dinâmica da relação com Eric (Joseph Quinn) quando seus caminhos se cruzam verbalizam isso através de diálogos intimistas. Complementando o enredo, a direção utiliza planos emblemáticos como a cena em que a câmera segue Sammy na direção contrária da multidão que busca um lugar seguro da invasão ou a perseguição do carismático gato Frodo com um rato de rua, paralela à perseguição dos alienígenas com os personagens. 


Ademais, o alicerce que sustenta tanto a tensão quanto o drama em tela é a performance entregue de Lupita Nyong’o. A capacidade da atriz de ser arredia e ao mesmo tempo vulnerável cativa o espectador. Pincelar  sua origem e fundamentar seu anseio por comer um pedaço de pizza durante o passeio em NY traz o aprofundamento e ordinariedade que a personagem precisa para que a enxerguemos como esse ser humano ferido lutando para encontrar sua redenção da maneira que pode. Sua personalidade não só casa muito bem com seu fiel e arisco gato, como a torna o molde ideal para uma loba solitária e quieta entre os escombros. O acabamento do cardigã amarelo com a touca vermelha finalizam o figurino como outro elemento técnico comunicativo ao público. 


Apesar da bela construção de personagem, o que enfraquece Um Lugar Silencioso: Dia Um é a falta de expansão desse universo. As cenas de ação reproduzem o que já havíamos assistido na dupla de filmes de John Krasinski e nada é acrescentado ou subtraído. É possível compreender que o roteiro pensou de forma minimalista e escapou da auto explicação do estilo onde os alienígenas habitam e do que se alimentam, contudo também fica claro que seria possível preencher alguns espaços vagos do enredo com detalhes mais sólidos da ficção científica. 


Outrossim, a edição de som é imersiva por nos atentar para cada ruído sonoro que pode colocar os personagens em perigo e a trilha sonora é mais discreta, se achegando apenas nos ápices dramáticos - como na fatal e sincronizada última cena. Entretanto, mesmo o espetáculo visual e sonoro não ganham desdobramentos novos que tornaram o original de 2018 uma obra de roer as unhas até o sabugo - sem fazer barulho, claro. 


Um Lugar Silencioso: Dia Um funciona como um desses epílogos em livros que trazem a emoção dos capítulos que o antecede, mas que, caso suas páginas tenham sido arrancadas, não fariam tanto falta assim. 


Maxxxine (EUA e Reino Unido, 2024)


Título Original: MaXXXine

Direção: Ti West

Roteiro: Ti West

Elenco principal: Mia Goth, Charlie Rowan McCain, Simon Prast, Deborah Geffner, Halsey, Giancarlo Esposito e Kevin Bacon

Distribuição brasileira: Universal

Duração: 103 minutos


No encerramento da trilogia de Ti West e Mia Goth, Maxine trilha seu caminho até o tapete vermelho com um rastro de sangue para provar que é uma estrela. 


Tentando superar os horrores do passado e deixando sua fama como atriz de filmes adultos para trás, Maxine finalmente consegue a oportunidade que pode alavancar sua carreira como celebridade respeitada em Hollywood. Contudo, um serial killer a solta ameaça sua chance de brilhar no show business com misteriosos assassinatos. 


Luz na passarela que lá vem maxxxine

Começando com o pé direito, X - A Marca da Morte trouxe uma das mais significativas parcerias do terror recente: Ti West e Mia Goth e o início da saga de Maxine em busca do estrelato por um caminho infame e condenável em uma sociedade polarizada moralmente. Pearl veio logo a seguir e quebrou a linearidade narrativa esperada da franquia com uma prequel que reafirma sua pegada estilística enquanto descentraliza a jornada de Maxine. Sobrou, então, para Maxxxine o fechamento da trilogia com expectativas a todo vapor da parte dos fãs. E ele consegue? Em partes. 


A protagonista está prestes a se desvencilhar do universo pornográfico para fazer um filme de terror com a diretora do momento. Esse novo enredo é costurado junto às lembranças traumáticas do primeiro longa e outras informações sobre seu passado religioso e nebuloso. A partir desse ponto, as referências começam. Afinal, fica claro que direta ou indiretamente Ti West se inspira no slasher metalinguístico Pânico para expandir o porte de sua produção e explorar a retroalimentação de Hollywood - filmes em que são feitos filmes e geram mais filmes. Depois disso são mais e mais referências. Vamos desde a citação à loira de Hitchcock até a casa assombrada de Psicose, a paranoia onírica de Cidade dos Sonhos e a estética semelhante à de Dublê de Corpo. A questão não slé quantas referências o filme faz a outros clássicos, mas a qualidade e profundidade com que ele as traz para si. Lamento dizer que poucas funcionam e se encaixam na proposta que Ti West havia construído até aqui com seu projeto. Antes o diretor havia sido extravagante em seu formalismo, mas conciso na identidade do slasher com tons de sátira. Em Maxxxine ele acrescenta elementos do thriller erótico e do noir, que são relativamente próximos como cinema, mas que sobrecarregam o andamento da história, deixando as doses abundantes de horror e escárnio para investir em puros excessos. 


Apesar desta overdose, o longa se sai bem em manter uma coerência estilística com a fotografia granulada e saturada, a trilha sonora mesclando acordes de mistério e terror e a cenografia o mais caricata possível de Hollywood, em seus sucessos reluzentes e fracassos em esquinas mal iluminadas. Entretanto, o que realmente desliza em Maxxxine é a forma como se compromete em amarrar as pontas soltas para que os créditos subam com os detalhes do roteiro aparentemente alinhados para o público. Essa necessidade em trazer à tona informações citadas superficialmente sufoca o que há de mais belo em Pearl - meu favorito entre os três -, que é sua capacidade de funcionar independentemente de seu antecessor e ao mesmo tempo estar conectado narrativamente e tecnicamente com ele. Ti West faz isso de modo mecânico em Maxxxine com a figura de seu pai e as crenças da infância da protagonista que a deixaram obcecada pelos holofotes. A trilha de assassinatos intriga o público, mas é a identidade do serial killer macabro que peca pela falta de sutileza. 


Logo, Maxxxine tenta desfilar no tapete vermelho estendido pelas duas primeiras produções da franquia que atraíram um casting estelar - formado por nomes como Elizabeth Debicki, Giancarlo Esposito e Kevin Bacon -, mas escorrega na poça de sangue bem no gran finale 




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