Quando pensamos em clichês ligados à amizade entre cães e seus tutores no cinema, é possível pensar desde a curva de aprendizado dos donos de Marley (Marley & Eu) até o amor absoluto de Hachiko (Sempre ao seu lado), mas com a temática sendo bastante presente em filmes que envolvem o desenvolvimento de laços afetivos.

Com DOG - A aventura de uma vida, a premissa inicial não é tão diferente. É contada a história de Briggs, um soldado que foi afastado do exército devido a um traumatismo craniano e que tem a oportunidade de receber uma nova recomendação para retornar à guerra desde que consiga levar a cachorra militar Lulu para o funeral de seu antigo dono - mas a cachorra parece indomável por conta do trauma do serviço. Com uma longa viagem de carro que dura alguns dias, há tempo de sobra para que eles desenvolvam a sua relação.
O grande trunfo do longa-metragem é que ele consegue recontar a fábula clássica do relacionamento entre humano e canino com uma roupagem que a torna realmente interessante, pois consegue evitar alguns dos sentimentalismos mais básicos para trazer a tona discussões mais interessantes, como a existência de animais de serviço e qual o papel dos militares quando eles retornam ao seu país após guerras. De maneira sutil percebemos todo o sofrimento do homem que está viciado na adrenalina dos combates e no companheirismo entre soldados precisando se adaptar a uma vida comum, e mais do que isso, percebendo também os motivos para muitas pessoas não gostarem dele. Antes de se tornar uma grande apologia ao exército e ao militarismo patriótico estadunidense, ele procura tratar as consequências humanas de quem passa pela experiência de guerra. Há ainda algumas cenas de humor um tanto desajeitadas ,mas percebe-se o porque elas estão inseridas naquele momento.
Ao invés de parecer uma obra feita para tocar os espectadores, ele parece uma obra que tocou os seus realizadores, e que utiliza a fórmula dramática para trazer um tema extremamente importante para a sociedade extremamente dividida atual: a conciliação, o perdão, a superação dos traumas. Reid Carolin e Channing Tatum conseguem mostrar uma fragilidade masculina raramente vista em tela, tanto pela direção eficiente das cenas quanto através da atuação. Que Tatum volte ao cinema após muitos anos através de um projeto tão pessoal e que destoa tanto de seu papel inicial de galã pode ser um bom indicativo do futuro de sua carreira.
O resultado é um filme que pode não ser inovador narrativamente e que depende muito das paisagens estadunidenses para se manter interessante esteticamente, mas que é realmente tocante na mensagem que deseja passar. Exatamente por se tratar de uma situação clichê de humano e cachorro que parecem estar na vida um do outro para aprender a superar o passado é que ele ganha força, já que nesse caso o clichê é forte o suficiente para sustentar o filme.
DOG - A aventura de uma vida estreia amanhã, 19 de maio, nos cinemas, após diversos atrasos em seu lançamento relacionados à pandemia de coronavírus.
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