Não são raros os casos no qual um filme é ultrapassado pela sua própria campanha de marketing. Da criação de expectativas até a realidade de ter que lançar uma infinidade de trailers para as pessoas irem aos cinemas, muitas vezes perde-se a noção de qual é o produto final (filme) que será exibido. E isso provavelmente irá acontecer com Renfield, cujo trailer não deixa espaço para a imaginação sobre a narrativa da obra.

No filme, Renfield (Nicholas Hoult) é o eterno servo de Drácula (Nicolas Cage). Mas a relação de trabalho baseada no medo está perdendo espaço no mundo moderno, que valoriza as boas relações humanas. Então, principalmente após conhecer a policial Rebecca (Awkwafina) e enxergar sua coragem, ele se vê disposto a tentar se desvincular dele. E em meio a isso, acontece uma trama paralela sobre o tráfico de drogas em Nova Orleans e que, sem querer, envolve o vampiro. Pela sinopse, o filme poderia tanto ser um drama quanto uma comédia, e o maior acerto foi por seguir o caminho da comédia. No entanto, ao perder parte da gama de emoções do drama, o roteiro acaba não surpreendendo.
Também não é uma surpresa o desejo de Nicolas Cage por interpretar Drácula, sendo algo que ele repete desde o início de sua carreira. E ele realmente se preparou pelo papel, conseguindo transmitir o tom de ameaça e segurança na mesma medida em que tem uma camada de leitura da comédia, muitas vezes provinda de sua expressão corporal. Nicholas Hoult também consegue passar a sensação de alguém enfraquecido e que vai se tornando mais seguro. Isso somado à direção segura de Chris McKay, que consegue criar cenas de ação memoráveis e de fácil entendimento, cria um filme leve (na medida do possível, dadas as cenas de intestino expostas existentes) e com diversas referências que fazem os fãs do horror se divertirem.
Mas o problema está na expectativa criada. Com fotos do set espalhadas pela internet, trailer excessivamente revelador, orçamento alto e o saber de que Cage está fazendo o papel da sua vida, é difícil não esperar muito do longa. E ele infelizmente não consegue cumprir a recompensa da espera. Lembrando que ele é, sim, um filme bom, principalmente para quem gosta de horror e entende que este filme não será do gênero, mas com uma nova aproximação sobre a temática vampírica através do humor.
É difícil sair da sessão sem pensar nas possibilidades que poderiam ser criadas a partir da atuação de Nicolas Cage, e pensar que apesar de conciso, com apenas 93 minutos, perde-se tempo criando a história do tráfico, que poderia ser simplificada. Ao mesmo tempo, há um grande alívio de perceber a fidelidade com que a figura do Drácula é tratada, de seus dentes assustadores à sua capacidade de transformação em morcegos. Ao invés de uma interpretação mais romântica da figura, escolhe-se o caminho de aceitá-lo apenas como maligno, uma decisão ousada e que merece ser reconhecida.
A distribuição do filme no Brasil está sendo realizada pela Universal. Verifique a programação na sua cidade.
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