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Estreia da semana: Urubus (2021)

Foto do escritor: Carol BallanCarol Ballan

Urubus (Claudio Borrelli, 2021)

Quase 10 anos após a invasão à 28ª Bienal de São Paulo, João Doria era eleito e entrava na prefeitura com um programa que dividiu opinião de moradores e foi assunto das pessoas e da mídia por bastante tempo. Era o Cidade Linda, que visava revitalizar o centro da cidade com limpezas e pinturas de muros com grafites e pichações. Ainda sugeriu punições mais pesadas a quem é pego cometendo esses atos. E foi após essa prefeitura que surge Urubus, filme que trás o ponto de vista dos pichadores marginalizados de São Paulo.



Algo muito bem traduzido pela obra é como o picho é um ato contra uma sociedade que realmente não se importa com esses meninos. Na obra escrita e dirigida por Claudio Borrelli, percebe-se a violência como parte cotidiana dessas vidas, algo provavelmente sentido em seus trabalhos anteriores com filmes sobre pichação. Ele utiliza o ponto de vista principal do jovem Trinchas (Gustavo Garcez) e seu grupo de amigos principalmente após ele conhecer Valéria (Bella Camero), garota branca que está estudando artes na faculdade e deseja adentrar o mundo do picho para escrever um trabalho escolar.

Como moradora de São Paulo, é impossível não sentir o impacto da obra e das distâncias que ela evidencia: eu passando de carro, uma pessoa pendurada por cordas para se visibilizar em uma cidade que insiste em mantê-la invisível. E faz-se a questão de utilizar a cidade como personagem, seja nas grandes distâncias percorridas no trem ou nas luzes da Av. Paulista vistas pela janela do apartamento de Valéria. A fotografia inclusive aproveita esse contraste e muitas vezes esconde os garotos pelas sombras da cidade, revelando parte do isolamento. Apesar disso, nas cenas que exigem mais ação a obra cai nos estereótipos do gênero e que foram popularizadas no Brasil com Cidade de Deus, dirigido por Fernando Meirelles (que é produtor de Urubus).

Há uma dificuldade em explorar os personagens de maneira mais profunda, ainda mais considerando a falta de conflitos internos apresentados. Como em um videogame parece que todos os objetivos a se superar são externos, e o tempo dado para as ideias amadurecerem e parecerem verídicas também é prejudicado. Como exemplo, Valéria começa o filme falando sobre picho ser arte, dá um livro a Trinchas e logo ele já passa ao movimento de pichar a Bienal. Esse excesso de movimento sem tempos de respiro para o espectador geram um ritmo angustiante pelos excessos. Mesmo a principal questão levantada pela obra, que é a validade artística do picho, só consegue chegar a uma conclusão a partir de uma visão duplamente externa - de Valéria e da curadora alemã.

As atuações são um de seus pontos altos, ainda que os atores não-profissionais tenham sido introduzidos pelo método Fátima Toledo, muitas vezes denunciado como abusivo. Além disso, há um recorte muito específico dessa cultura que é explorado e explicado de maneira dinâmica, sem a necessidade de diálogos expositivos. Entende-se o seu sucesso que levou à premiação na 45ª Mostra de Cinema Internacional em São Paulo.

Quando se considera que este é o primeiro longa-metragem do diretor e que já deixa muito claro seus traços de autoria, percebe-se uma potência para tratar assuntos urbanos em seus próximos projetos. Ainda que tenha diversos deslizes, Urubus é uma obra importante para a compreensão de uma cidade como São Paulo.


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