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Estreias da semana: Do Jeito Que Elas Querem:O Próximo Capítulo, O Homem Cordial e Nascimento Do Mal

Foto do escritor: Carol BallanCarol Ballan

Do Jeito Que Elas Querem: O Próximo Capítulo (Bill Holderman, 2023)

Já no início do filme Do Jeito Que Elas Querem: O Próximo Capítulo fica claro qual é o seu tom e sua mensagem. Em uma longa introdução que aborda o tempo passado na pandemia de Coronavírus, menciona-se o distanciamento, os hobbies de pandemia, mas não há sequer citação da doença e as mortes envolvidas na situação. É exatamente neste universo açucarado pelo privilégio que toda a narrativa irá se desenrolar. Partindo de onde o filme anterior parou, acompanhamos as novas aventuras de Vivian (Jane Fonda), Diane (Diane Keaton), Carol (Mary Steenburgen) e Sharon (Candice Bergen), as amigas unidas há décadas por um clube do livro. Com a surpresa do anúncio do casamento de Vivian, elas decidem realizar uma viagem à Itália planejada há muito tempo.



Se a outra obra tem como mérito uma reflexão sobre o amor, sexualidade e possibilidades na terceira idade a partir da leitura de Cinquenta Tons de Cinza, a questão das leituras é praticamente abandonada ao longo deste. Com exceção de algumas citações a O Alquimista (Paulo Coelho) e algumas cenas do clube online, nada conecta uma leitura com a sua trama, fazendo com que seu nome original Book Club: The Next Chapter (em tradução livre, O Clube do Livro: O Próximo Capítulo) perca totalmente seu sentido. Ao invés disso, o foco recai somente nas vidas afetivas das quatro mulheres, fazendo com que suas personalidades sejam definidas apenas por este traço.

Considerando que o público-alvo do filme se forma por pessoas saudosas das comédias românticas dos anos 1990 e que desejam ir ao cinema apenas para ver algo leve e divertido, há o avanço do retrato de uma amizade feminina forte como uma maneira de conseguir passar pela vida. Além disso, também funciona como um belíssimo road movie sobre a Itália, com planos de localização que tratam o país de maneira bastante positiva. Mesmo os assédios que o grupo de senhoras recebe é relativizado, tornando-se elogioso, mostrando a clara parte da concepção masculina da obra.

Apesar da qualidade altíssima do elenco, que consegue juntar quatro das melhores atrizes hollywoodianas na terceira idade, o roteiro tem diálogos tão simplistas e diretos que não permite que a profundidade criada no primeiro filme seja explorada. Para Keaton e Fonda, ainda há maiores possibilidades, dado seu protagonismo na trama. Mas para Steenburgen, cujo papel se torna apenas do estereótipo de esposa chata, e Bergen, que incorpora a senhora-nerd com liberdade sexual, a limitação fica clara e não é possível percebê-las brilhando em tela, exceto em uma ou outra cena em que conseguem destaque.

Se o primeiro filme trás o ponto de falar sobre a sexualidade e os dramas da terceira idade de forma leve e divertida, pouco explorada no cinema, nesta obra essa magia se desfaz, com a maior parte do roteiro não sendo apenas sobre essas mulheres ricas aproveitando seu final de vida, mas sim sobre os homens ao seu redor - mesmo quando ausentes da tela.


A distribuição do filme no Brasil está sendo realizada pela Universal Pictures. Verifique a programação na sua cidade.



O Homem Cordial (Iberê Carvalho, 2019)

Para iniciar uma reflexão sobre o filme O Homem Cordial é necessário revisitar o conceito criado por Sérgio Buarque de Holanda. Para ele, o homem cordial é um retrato fiel da população brasileira, sendo dominado pelo coração ao invés da razão. Assim, ainda que isso represente um lado afetivo e caloroso, também diz sobre a sua impulsividade e violência, sendo capaz de passar de um extremo ao outro com muita rapidez. Soma-se a isso uma herança cultural vinda do ruralismo e do patriarcado, vindos da nossa colonização portuguesa.



O longa-metragem se inicia com um show da banda Instinto Radical na qual essa mudança rápida já é demonstrada, pois enquanto Aurélio (Paulo Miklos) canta, uma notícia sobre ele estar envolvido em um incidente que leva à morte de um policial é anunciada. Após a correria para sair do palco, começa-se a conhecer um pouco sobre os integrantes da banda e suas relações, e as próprias informações sobre o incidente são dadas ao espectador aos poucos, criando curiosidade.

Com um desenvolver cheio de acontecimentos e deslocamentos pela cidade de São Paulo, que atua quase como atriz de suporte, entende-se que o cantor tentou proteger um garoto de um policial, e que isso ocasionalmente leva à morte do policial. Então, seguindo a jornada de Miklos de maneira intensa, são acompanhadas as suas ações na procura do sentido mais profundo do incidente, e de tentar encontrar o menino que protegeu e que está desaparecido, Mateus (Felipe Kenji).

Ele é acompanhado pela jornalista Helena (Dandara de Morais), que busca investigar o ocorrido mais profundamente para evitar o espalhamento de fake news sobre o caso. E em uma participação sobre a qual não revelarei para evitar spoilers, ele encontra ainda Béstia (Thaíde), dono de um bar no Jardim Ibirapuera. Esse trio de atores funciona muito bem em tela, tanto individualmente como em grupo, apesar de falas que parecem por vezes excessivamente pensadas para quem está em uma situação de stress.

Aurélio aos poucos vai se mostrando como esse homem cordial de maneira muito realista ao público brasileiro, agindo instintivamente para tentar resolver seu problema de imagem. Mas na medida em que sua saga se desenvolve, temos também que analisar os seus encontros com os outros homens cordiais que habitam os mesmos espaços, e é neste momento que a trama encontra os seus ápices. Com a câmera seguindo Aurélio com afinco, esses choques são visíveis e é possível refletir sobre a situação do nosso país. Mesmo que ele tenha sido produzido há alguns anos, a ressonância que o discurso ainda tem após um governo de extrema-direita faz com que nada seja perdido em relação aos acontecimentos.

É necessário fazer um adendo sobre o nível de violência do filme, principalmente quando se trata de personagens negros. Ainda que possa ser um retrato da violência real e existente na sociedade, ela é retratada sob um ponto de vista que em alguns momentos beira o sadismo. Como mulher não-negra, isso já me incomodou, então é importante ressaltar que ele pode causar os mais diversos tipos de gatilhos.


A distribuição do filme no Brasil está sendo realizada pela Diamond Films. Verifique a programação na sua cidade.



O Nascimento do Mal (Lori Evans Taylor, 2023)

O terror com protagonismo feminino, e mais do que isso, que coloca a gravidez como o centro do horror, não é nenhuma novidade. Do mais clássico O Bebê de Rosemary (disponível na Globoplay) até o totalmente psicodélico Antibirth (disponível na Prime Video), as modificações hormonais e de aparência da mulher durante o período já foram tratadas sob os mais diversos subgêneros, sendo o horror corporal um dos mais frequentes.



Neste novo filme, acompanhamos a trajetória de Julie (Melissa Barrera), uma mulher grávida que não assistiu filmes de terror o suficiente e decidiu reformar uma casa antiga com seu marido Daniel (Guy Burnet) para a chegada do novo bebê, após uma primeira perda de um filho após a gestação. Enquanto ela se prepara para a chegada do novo bebê, começa a perceber que a casa em que estão vivendo não é muito segura. Com a estreia de Lori Evans Taylor na direção e seu primeiro roteiro de longa-metragem, percebem-se boas ideias embrionárias, ainda que diluídas em um conteúdo muito comum e massificado.

A mistura entre a casa assombrada e a psicose da mulher grávida talvez seja o grande incômodo em relação à falta de novidades no âmbito do roteiro. Ainda assim há detalhes que tornam a história mais palatável, como o bom relacionamento entre o casal e detalhes como a gravidez muito tranquila até o momento em que Julie precisa ficar de repouso. Algumas decisões de direção, como os flashbacks constantes e em um tom de sépia bastante antiquado na linguagem cinematográfica e o exagero de trilha sonora para causar sustos, mostram que ainda não há um grande diferencial de obras do gênero.

Melissa Barrera, que aos poucos conquista seu espaço no universo do terror a partir de sua participação como Sam Carpenter em Pânico 5 e Pânico 6, consegue construir uma personagem profunda e que ajuda o espectador a seguir com ela em sua jornada. Desde a afeição com seu gato de estimação até os momentos de luto por conta do bebê falecido, ela se torna um dos pontos altos da obra. Também é um alívio que o relacionamento do casal seja mostrado como seguro e profundo, não colocando mais uma vez o peso do sobrenatural em um relacionamento abusivo.

O longa-metragem consegue criar o suspense psicológico melhor do que realiza a resolução do problema no último ato, o que torna a experiência frustrante. Ainda que haja uma boa alteração dos clichês neste ato, a falta de profundidade ainda é ressaltada na conclusão do horror. Ainda que tenha os seus bons momentos e revele um excelente caminho para a carreira de Melissa Carrera, o filme não se destaca entre as obras mais inovadoras exibidas nos últimos anos.


A distribuição do filme no Brasil está sendo realizada pela Diamond Films. Verifique a programação na sua cidade.


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