Dos 3 Aos 3 (Pablo Lobato, 2023)
Se você, como eu, nunca ouviu falar na pediatra austríaca Emmi Pikler e na sua metodologia de desenvolvimento infantil a partir da observação e autonomia, haverá um grande interesse em compreender como ele é aplicado. No documentário Dos 3 Aos 3 é exatamente isso que podemos observar, enquanto Bianca Bethonico mostra como educou o seu filho Ravi. Ela conseguiu realizar a obra junto a Pablo Lobato, artista plástico e diretor brasileiro que se interessou em acompanhar de perto o processo. Ela, já acostumada com a metodologia e querendo imagens próprias para suas palestras e cursos e ele, já acostumado ao audiovisual, juntos conseguem captar imagens sensíveis e que retratam exatamente aquilo que está sendo explicado.

Apesar da beleza plástica e do assunto interessante sendo abordado com muita propriedade, a obra se torna cansativa mesmo com a breve duração pelo formato, que é repetitivo e mescla apenas conversas via Zoom e as explicações de Bianca em voz narrativa. Ficando exatamente no meio do caminho entre ser mais artístico e experimental ou um documentário educativo, há dificuldade em compreender exatamente quem seria o seu público.
Eficiente em abordar a metodologia e trazendo uma discussão bastante atual sobre metodologias da educação, algo essencial em um momento em que o ensino se sente ameaçado pelas tecnologias e o Chat GPT, sente-se falta da explicação da metodologia adaptada ao mundo moderno. Ainda que se trate da primeira infância, a ausência de qualquer explicação sobre lidar com telas, por exemplo, distancia um público mais generalizado.
Assim, ainda que distribuído em cinemas, talvez seu alcance seja maior ao ser disponibilizado online, alcançando seu maior público, de jovens pais que desejam compreender a melhor metodologia para criar seus filhos.
A distribuição do filme no Brasil está sendo realizada pela Embaúba Filmes. Verifique a programação na sua cidade.
Rodeo (Lola Quivoron, 2022)
Em seu primeiro projeto de direção de um longa-metragem, a francesa Lola Quivoron já conseguiu se destacar ganhando uma premiação no Festival de Cannes de 2022. Com um projeto independente e com uso de atores não-profissionais, ela conta a história de Julia (Julie Ledru), uma mulher que deseja participar do ambiente de rodeios urbanos de motos e que aplica diversos golpes para conseguir seus meios de locomoção. Sua vida é alterada quando ela conhece outras pessoas deste meio e cria relações de trabalho com eles.

A obra é um dos casos no qual ter um olhar feminino e uma boa colaboração entre a atriz principal e a diretora fazem diferença no resultado final. Com uma abordagem que chega a ser dura sobre a posição ocupada pelas mulheres no mundo masculino das motocicletas, percebe-se a imersão realizada no universo. A profundidade da personagem que consegue oscilar entre a raiva juvenil, a rebeldia em busca de adrenalina e a empatia doce é bem explorada pela dupla, elevando o estudo de personagem sem a necessidade de criar para ela uma história de origem.
As regras do gênero de ação também são utilizadas por vezes de forma direta, criando cenas complexas em cima das motos, e por vezes sendo quebradas, como ao utilizar a adrenalina para retratar a liberdade feminina sob as rodas. Também é despida a forte moralidade muito associada ao gênero, sem criar julgamentos específicos sobre qualquer personagem, mas apenas retratando uma visão surreal da realidade.
Apesar de certa dificuldade no início do filme para engatar a história fictícia, aos poucos ela se torna hipnotizante, com o inimigo invisível da polícia sempre assustando ao espectador o tanto que assusta os personagens. A imersão é bem executada tecnicamente, e certamente é melhor percebida em uma sala de cinema.
A distribuição do filme no Brasil está sendo realizada pela Imovision. Verifique a programação na sua cidade.
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