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Heartstopper - 1ª temporada (Alice Oseman, 2022)

Foto do escritor: Carol BallanCarol Ballan

O subgênero Comédia Romântica é um dos que mais sofre preconceitos desde a criação da nomenclatura. Ganhando forças nos anos 1990 e 2000, ele ficou bastante estigmatizado pelo uso de uma fórmula de “garoto encontra garota, eles passam por dificuldades mas ficam juntos no final”, além de ganhar a classificação machista de ser voltado apenas ao público feminino. Isso gera algumas reações, como a alteração da dinâmica em um período nos anos 2010 no qual esses filmes pareciam ter sumido das salas de cinema. A provedora de streaming Netflix foi uma das primeiras que aproveitou o vazio deixado no mercado para lançar novas obras, como Para Todos os Garotos que Amei, Meu Eterno Talvez e Fofinha. Como ela é extremamente atenta às mudanças de mentalidade dos seus espectadores, a maioria desses novos filmes trazia alguma nova problemática interessante: racismo, homofobia, gordofobia. Então, conseguindo trazer novos ares às comédias românticas, pode trazer o subgênero novamente à tona.

É nesse contexto que surge a série britânica Heartstopper, baseada em uma série de quadrinhos criada pela igualmente britânica Alice Oseman. E, com sua mistura de comédia romântica com narrativa sobre amadurecimento com foco nas relações LBTQIA+, conseguiu estrear com aprovação de 100% no Rotten Tomatoes e se tornou uma sensação da internet. A história é contada pelo ponto de vista de Charlie Spring, o único garoto assumidamente gay de sua escola, a partir do momento em que ele começa a sentar em uma aula com Nick Nelson, e a se apaixonar pelo rapaz.


E ela não foge muito à fórmula especificada, a não ser pela premissa que é, neste caso, garoto encontra garoto. Só que ela é realizada de maneira tão delicada e respeitosa a diferentes pautas da comunidade LGBTQIA+ que se torna irresistível. Não minimizando questões como homofobia, transfobia e o bullying do ambiente escolar, ela consegue desenvolver as descobertas que quase todo jovem LGBTQIA+ passa: entender sua sexualidade, as paixões avassaladoras, se relacionar com pessoas incapazes de viver sua própria verdade.


As atuações são parte essencial para que essas relações sejam críveis, e há uma entrega incrível de todos os atores e atrizes envolvidos. Em especial, a química entre o casal principal, interpretado por Joe Locke e Kit Connor, faz com que seja impossível não torcer por eles. A participação de Olivia Colman é breve, mas merece destaque. É também animador perceber que atrizes trans estão sendo chamadas a interpretar personagens trans, sem a desculpa dos produtores de que não há boas pessoas trans disponíveis para os papéis.


O seriado não possui grandes feitos nas áreas técnicas, tendo fotografia e edição bastante naturalistas e poucas locações - mas tudo é bem executado dentro daquilo que se propõe. Há um gracejo com sua origem nos quadrinhos, com grafismos aparecendo em alguns momentos. A questão é que isso é pouquíssimo importante perante ao que está sendo mostrado: representatividade jovem LGBTQIA+, amor, capacidade de acolhimento, e o que é mais importante, a profundidade sem limitar qualquer personagem a aquela característica estereotipada relacionada à sexualidade.


Acrescento que, pessoalmente, considero uma vitória gigantesca para a juventude ter essa representação disponível. Pensando em experiências da minha vida, foi somente na casa dos 20 anos que eu passei a me preocupar criticamente com a forma no qual personagens LGBTQIA+ muitas vezes caem nos tropos: o melhor amigo gay, a lésbica louca, a pessoa trans sofredora, o bissexual promíscuo. Ver as possibilidades sendo expandidas é um grande ganho, e espero que torne a experiência dos jovens LGBTQIA+ menos estressante do que ela foi para os que cresceram nos anos 2000.

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