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Lançamentos da semana - Desapega! e Perlimps

Foto do escritor: Carol BallanCarol Ballan

Desapega! (Hsu Chien, 2023)


É peculiar o momento em que vemos Glória Pires atuando como mãe de Maisa. No entanto, o grande elenco é parte essencial da nova obra de Hsu Chien, já conhecido no mercado brasileiro por suas comédias românticas Quem Vai Ficar Com Mário? e Me Tira da Mira. O filme conta a história de Rita (Glória Pires), uma mulher que parece estar vivendo uma vida bastante equilibrada após controlar o seu vício em compras. Terapeuta de um grupo de compulsivos, iniciando um novo romance, mas que tem a grande surpresa de que sua filha Duda (Maisa) planeja sair de casa.

Os grandes acertos da obra estão em explorar o momento de separação de cordão umbilical entre mãe e filha, formando um belo arco sobre a amizade e a necessidade de independência. O momento pelo qual todas as pessoas passam é abordado através de uma relação familiar positiva, o que permite uma abordagem sensível mas que também mostra um certo grau de dependência sendo superado. E há diversos momentos nos quais as piadas contadas são excelentes e fazem o público rir em uníssono.


Percebe-se também uma preocupação em criar contexto para todas as personagens, mesmo aqueles com menores participações - mas o excesso de subtexto é pouco explorado dado o pouco tempo que muitos deles têm em tela, sendo reduzidos a poucas piadas. O diretor revelou que parte da inspiração da obra está em sua própria compulsão por compras, aumentada durante a pandemia, momento em que o argumento foi escrito, e que por isso a ideia foi manter o clima leve. Isso funciona em alguns momentos, mas sai-se com a impressão de que se houvesse algum aprofundamento, isso seria positivo ao filme, ainda mais considerando o excelente trabalho feito no relacionamento entre mãe e filha.


Há momentos divertidos como a homenagem feita ao filme High School Musical ou as sessões de terapia em grupo, mas mesmo com uma realização correta em termos de fotografia, direção de arte e edição, sente-se falta da contrapartida mais emocional que conecta os espectadores. O que poderia facilmente se tornar uma obra mais profunda acaba cedendo ao excesso de humor e não conseguindo alcançar seu pleno potencial.


Perlimps (Alê Abreu, 2022)


Gostar de animações sendo uma mulher adulta é, muitas vezes, se permitir entregar aos sentimentos mais simples, da tristeza do início de Up! Altas Aventuras até o riso fácil de Shrek 2. Assim, é feliz o momento em que nosso país tem um realizador tão complexo e interessante quanto Alê Abreu, que se consagrou com o primeiro longa-metragem O Menino e O Mundo e agora trás um conceito completamente diferente, mas igualmente bem realizado.


Acompanhamos a história de Claé e Bruô, crianças que misturam características humanas às animais, enquanto eles espionam os Gigantes que estão tentando tomar o seu bosque e buscam Perlimps, figuras mitológicas que os ajudariam. Se o conteúdo parece generalista, este parece ser exatamente o seu objetivo: criar uma fábula que ao mesmo tempo fale sobre a necessidade da inocência das crianças, deponha contra crimes ambientais e contra as guerras. Alê Abreu conseguiu capturar bem o espírito do tempo pós-pandemia, com a Guerra da Ucrânia e a ascensão da extrema direita em diversos países, conseguindo ainda equilibrar o tom a um universo lúdico e de entendimento infantil.


As camadas se sobrepõem de maneira que adultos conseguem ficar reflexivos na mesma medida em que crianças são entretidas. Isso se dá principalmente através da construção de um roteiro que não subestima a imaginação infantil e consegue trazer referências que adultos facilmente entenderão, como o grande muro que separa o bosque da região dos Gigantes. Adiciona-se o excelente uso de cores, trilha sonora em constante homenagem a Bola de meia, bola de gude de Milton Nascimento, e cria-se uma experiência audiovisual completa.


Se talvez ele tenha alguns momentos em que se torna excessivamente psicodélico em sequências de cores e formas, isso é compensado pela animação 2D extremamente bem trabalhada, levando cada quadro a parecer uma pintura. É mais um grande movimento na produção de animações nacionais, e espero que leve a novos projetos do diretor.

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