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Lançamentos da semana: Megatubarão 2 e Depois de Ser Cinza

Foto do escritor: Carol BallanCarol Ballan

Megatubarão 2 (Ben Wheatley, 2023)

Anteriormente, já arrisquei dizer que a volta da pandemia tem o protagonismo dos filmes de ação, seja pela necessidade de um conteúdo escapista da realidade de crise financeira ou pela sua disponibilidade, dado que esses projetos foram afetados pelos atrasos em gravações. Ainda que Megatubarão 2 provavelmente não seja um sucesso comercial do valor de John Wick ou Missão Impossível, ele demonstra que os blockbusters de ação regados a testosterona e heroísmo masculino estão em alta, e Ben Wheatley sabe surfar essa onda (trocadilho intencional) para dar sequência à saga de Jonas Taylor (Jason Statham) versus o tubarão-dinossauro.



Apesar de ter uma narrativa semelhante à do primeiro filme, a sequência tem uma diferença de tom aparente em seus primeiros momentos, conseguindo se levar menos a sério e abraçando o absurdo da batalha. Já iniciamos a obra com a compreensão das consequências do primeiro longa, desde a nova ocupação de Jonas até os avanços tecnológicos de sua equipe. Percebe-se que este foi um grande salto, assim como o que ocorre com as CGIs do longa, que com um maior orçamento conseguiram trazer monstros mais aterrorizantes, desde a textura do Mega até os novos animais que são introduzidos. Há também uma mudança da atitude da equipe, mostrando que os anos que se passaram entre acontecimentos do primeiro e segundo filme foram essenciais para que as desavenças fossem esquecidas e o entrosamento melhorasse.

O próprio Jonas parece bastante mudado, saindo do arquétipo do homem desacreditado para uma posição estereotipadamente masculina do homem protetor de sua família. Ainda que seja um reforço a uma visão machista do mundo, a interação com Meiying (Shuya Sophia Cai) e Jiuming Zhang (Jing Wu) cria uma nova camada de sentimentos à narrativa. Nesse sentido, a nova roupagem dada a DJ (Page Kennedy) também é divertida, e funciona por conta do timing cômico do ator.

Para além das piadas e de uma narrativa óbvia, mas bem executada, olhar para a obra com a visão sociopolítica também leva a resultados interessantes. Com parte do elenco chinês e boa parte da trama utilizando ativamente a língua chinesa, é clara a intenção dos produtores de chegar ao restrito, porém altamente rentável, mercado chinês. Criando personagens que passam longe da vilania e que estão no círculo virtuoso do personagem principal, essa é uma mudança importante em relação aos antigos filmes de ação que podiam sempre contar com um vilão chinês ou russo. É um sinal de novos tempos, mas ainda regado à masculinidade típica do gênero.

O filme será apreciado por quem consegue assistir Megatubarão e apreciar a galhofa, uma vez que ele abraça essa imagem e se aprofunda (desculpas, esse também foi proposital) nela. Com mais risadas do que sustos, este pode ser um caminho complexo para uma Hollywood que segue utilizando uma moral antiquada para seus modelos masculinos.

A distribuição do filme no Brasil está sendo feita pela Warner Bros. Verifique a programação na sua cidade.


Depois de Ser Cinza (Eduardo Wannmacher, 2020)

Mais um filme que sai de um lançamento em festivais e entra em circuito comercial alguns anos após sua produção, Depois de Ser Cinza é o primeiro longa-metragem do diretor gaúcho Eduardo Wannmacher. No filme, que ele classifica como uma análise dos movimentos que se fazem na vida, ele interliga a vida de três mulheres a um ponto comum de que todas se relacionam com Raul (João Campos). No início, temos o seu encontro com Isabel (Elisa Volpatto) na Croácia. Se parece que este será um road movie de dois brasileiros em um país pouco popular, logo se percebe que na verdade o que se cria é um retrato de diversas pessoas em grande conflito, em uma viagem também temporal em relação ao seu relacionamento com Suzy (Branca Messina) e Manuela (Sílvia Lourenço).



Tratando de relações humanas e as suas evoluções, há um trabalho de direção de atores muito eficiente e que consegue dosar os tons para passar a mensagem sem se tornar caricato, principalmente quanto à agressividade de Isabel. Também é digno de nota que todos os personagens mostrados em cena estão, de certa forma, quebrados. Cada um com o seu dilema pessoal, todos juntos parecem uma demonstração de transtornos mentais e a sua relação com a atualidade. Servindo como metáforas, o filme ganha força exatamente por mostrar uma sociedade adoecida.

E os aspectos técnicos do filme parecem uma consequência natural da percepção de que as atuações são seu ponto crítico. Direção de arte e de fotografia, por exemplo, se mostram quase naturalistas, fingindo não existir para que o espectador creia no realismo narrativo, mas também criando o interligamento de histórias a partir de rimas visuais como o caso do isqueiro. Se destaca um pouco a trilha sonora, que ressoa o que é mostrado em tela de maneira mais característica e estilizada.

Ao mesmo tempo que há este acerto, a falta de car acterísticas das personagens femininas que não estão relacionadas apenas com sua relação com um homem leva o filme a um ponto de vista específico de homens brancos de esquerda, e que podem incomodar bastante as espectadoras. Ainda que não haja vieses explícitos como a nudez apenas feminina, a falta de substância dessas personagens e a sua relação com o personagem principal desagradável transmitem que a obra foi escrita e dirigida por homens.

O resultado é uma obra com ideias interessantes, mas que trazem à tona também a falta de experiência do diretor. Há alguns pontos narrativos que parecem não se interligar, personagens que são repetidos e não trazem nenhum valor à obra, e pequenas situações que poderiam ser utilizadas para acrescentar à trama, ao mesmo tempo em que a humanidade das interações está sempre presente. É possível que, futuramente incluindo mais de uma realidade diversa, o diretor consiga unir sua habilidade com o elenco a uma estrutura mais sólida para um público maior. Mas para nós, espectadores, essa é uma situação que só será resolvida com o desenvolvimento de novos projetos.


A distribuição do filme no Brasil está sendo feita pela Boulevard Filmes e Vitrine Filmes. Verifique a programação na sua cidade.


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