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Lançamentos do Recesso - Decisão de Partir e Aterrorizante 2

Foto do escritor: Carol BallanCarol Ballan

Decisão de Partir (Park Chan-wook, 2022)


A partir do momento em que Parasita ganha o Oscar de Melhor Filme em 2020, se torna claro que o cinema coreano não pode mais ser ignorado pelos espectadores americanos e europeus. No entanto, mesmo antes do nome de Bong Joon-ho começar a ser reconhecido pelos fãs da sétima arte, Park Chan-wook já era conhecido nos círculos cinéfilos por sua Trilogia da Vingança e A Criada. Com o seu novo filme, Decisão de Partir, que felizmente foi distribuído nos cinemas brasileiros, o diretor se afasta um pouco das características de gore (sanguinolência, em tradução livre) e extrema violência dos filmes anteriores, mas sem perder o excelente ritmo e trama complexa.



A trama se inicia com a morte de um montanhista e a investigação policial que a segue. Hae-Joon (Park Hae-il), o detetive encarregado, passa a entrevistar suspeitos e acaba conhecendo a viúva Seo-Rae (Tang Wei), se impressionando com a falta de reação negativa dela ao falecimento do marido. Assim, eles começam uma estranha relação que ultrapassa a questão investigativa.


Para quem espera cenas de violência explícita ou até mesmo um conteúdo sexual mais gráfico, haverá uma certa resistência para apreciar a obra, pois o diretor se afasta desse extremo para criar relações e ações mais sutis. Ainda assim, a tensão está presente em todos os momentos do filme, algo alcançado através da aproximação dos espectadores ao protagonista ao dar a eles o mesmo nível de informação que a que investigação possui, permitindo que o mistério acerca do ocorrido seja cada vez mais latente. Isso é reforçado pelas excelentes atuações de Park Hae-il e Tang Wei, que ainda não são tão conhecidos do público brasileiro, mas já possuem uma carreira consolidada no cinema.


Outro elemento essencial na manutenção da tensão é a edição, que consegue mesclar as cenas com maior ação a cenas menos intensas, brincando com as expectativas de quem assiste para gerar mais emoção. Ela se soma ainda à fotografia não apenas bela, como funcional. Os enquadramentos parecem todos decididos com muito pensamento, não sendo apenas estéticamente agradáveis, mas dando também uma camada de leitura sobre o que está ocorrendo, cena a cena.


Mas isso já indica que também é uma obra a ser apreciada com certa tranquilidade, se entregando ao mistério que é apresentado e sem esperar soluções mágicas que resolvam tudo o que é levantado ao longo da obra. Parte da experiência é poder conversar com outras pessoas sobre as interpretações que elas têm do filme. Com essa construção perfeita e abordando o desejo sexual de maneira exacerbante e inovadora, Park Chan-wook mostra que é um diretor para todos os tipos de filmes.


Aterrorizante 2 (Damien Leone, 2022)


A franquia Aterrorizante é uma das grandes provas do poder mobilizador da internet. Com lançamento de campanha de financiamento coletivo até as estratégias de marketing envolvendo palhaços assustadores e, no segundo longa-metragem, as notícias de que pessoas estavam passando mal no cinema. Infelizmente, apesar das críticas contundentes ao primeiro filme, alguns dos maiores problemas apontados permanecem na estrutura do segundo, principalmente em relação à sua estrutura de torture-porn (tortura pornográfica,em tradução livre), subgênero do horror que envolve violência extremamente gráfica.

O filme segue o palhaço Art (David Edward Thornton) após os eventos do primeiro filme. Dessa vez, sua vítima é Sienna (Lauren LaVera), jovem que mora no condado de Miles e está passando por um momento complicado da família após o falecimento do pai. Aos poucos, ela percebe que está mais envolvida do que o imaginado na saga de Art, principalmente através das conversas com seu irmão Eric (Griffin Santopietro), um jovem soturno e consumidor de true crime (gênero baseado em crimes reais, em tradução livre).


A estrutura é bastante semelhante ao filme anterior, com o palhaço matando todas as pessoas ao seu redor das formas mais violentas o possível, até se compreender que ele tinha um grande plano, uma evolução em relação ao outro filme. Ao mesmo tempo em que se complexifica, ele abraça um pouco mais o horror trash, não se levando tanto a sério e rendendo algumas risadas, além dos sustos. O que acaba perdendo a audiência é sua extensa duração, que se torna cansativa devida a repetição de cenas de mortes violentas, que também acabam perdendo o efeito de chocar o espectador. Também há a introdução de uma nova personagem, sem nome, que é uma menina que aparece aos olhos do palhaço (interpretada por Amelie McLain), mas ela infelizmente não tem um papel próprio na trama, sendo apenas um artifício narrativo para que a franquia continue existindo.


Ao mesmo tempo em que Art e a garotinha continuam sem grandes explicações, as atuações de Thornton e McLain merecem destaque, especialmente por continuarem sem ter falas e conseguirem manter o suspense através da linguagem corporal. Mas isso também tem um efeito negativo sobre as outras atuações, que estão menos preocupadas em manter diálogos excelentes ou até um realismo, o que combina com sua fração trash e se afasta da possibilidade de outros personagens complexos e interessantes.


Os avanços técnicos em relação ao primeiro longa também são óbvios, tanto através de locações mais complexas, quantidade de atores e até os efeitos especiais, que são melhor trabalhados. Infelizmente, essas qualidades não conseguem esconder o fato de que o filme permanece vazio de significados, conseguindo assustar e enojar, mas não conseguindo permanecer na cabeça do espectador a partir do momento que ele sai da sala de cinema.

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