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Marte Um (Gabriel Martins, 2022)

Foto do escritor: Carol BallanCarol Ballan

Aviso: Este texto contém SPOILERS.


Ao se deparar com o nome Marte Um, a maioria dos espectadores esperará uma obra de ficção científica. No entanto, ao descobrir o drama familiar deste longa-metragem brasileiro que teve estreia no Festival de Sundance e recebeu 4 premiações no Festival de Gramado, é difícil que o espectador se decepcione. Produzido pela Filmes de Plástico, produtora de Contagem que já se tornou conhecida e esperada no circuito de festivais, ele chegou hoje (25 de agosto) aos cinemas brasileiros.


Em um formato narrativo clássico, é contada a história de cada um dos integrantes da família Martins: o pai Wellington, porteiro em um prédio de luxo e sonha que seu filho se torne jogador de futebol; a mãe Tercia, faxineira que acredita estar amaldiçoada; a filha Eunice, que estuda direito e passa a desejar mais independência da família; e o filho mais novo Deivinho, que não corresponde às expectativas do pai e deseja se tornar astrofísico. Contando um pouco sobre a vida de cada personagem individualmente e os juntando em algumas cenas, aos poucos se torna impossível não se identificar com alguma das situações propostas. Além de examinar esses personagens e suas relações, ainda são protagonistas o ambiente da periferia de uma grande cidade e o período histórico, marcado pela eleição de Jair Bolsonaro.


O início do filme é um pouco tímido, com uma apresentação dos personagens e da sua situação, e é apenas ao seu final, quando todas as crises culminam, que se compreende o trabalho engenhoso do roteiro. As informações são dadas lentamente e de maneira naturalista. As atuações, que também seguem nessa chave, permitem que o espectador se envolva com a narrativa através da identificação, e a escolha de utilizar atores profissionais e não profissionais ajuda a manter o tom.


Isto é acompanhado por uma qualidade técnica elevada, tanto através de uma fotografia bem planejada e com um desenho de luz que consegue transitar entre o naturalista e o poético, quanto de uma direção de arte precisa que consegue transmitir mensagens através da cenografia e figurino. É interessante que, apesar do filme se passar em Minas Gerais, há uma abordagem mais universal desses cenários, o que permite que pessoas de qualquer região do país se conectem com aquela realidade.


Ao pensar no paralelo entre a missão “Marte Um”, a atual situação do Brasil e a realidade mostrada no longa, entende-se o eficiente trabalho do título. A colonização de Marte em uma missão apenas de ida, custando U$30 bilhões que seriam pagos através de investimentos privados e patrocínios, não conseguiu evoluir e foi cancelada. Do mesmo modo, a narrativa utiliza o atual projeto de governo que aposta no neoliberalismo para funcionar e que, narrativamente, leva direta ou indiretamente à crise de todos os personagens, principalmente através da instabilidade econômica que toda a família passa. Também é abordada a dificuldade de comunicação que reflete uma realidade brasileira muitas vezes abordada até na forma de memes que se intensificou nas eleições de 2018 e está se repetindo em 2022. É neste sentido que o final do filme, de reconciliação e esperança, se torna tão inspirador.


O resultado final é uma obra engajada politicamente, importante dentro do país atualmente, e que resiste a todos os cortes de incentivos governamentais à cultura, ao mesmo tempo que possui uma abordagem afetiva sobre o assunto. Aos espectadores, cria-se a curiosidade sobre projetos futuros do diretor e da produtora.

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