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Os Fabelmans (Steven Spielberg, 2023)

Foto do escritor: Carol BallanCarol Ballan

Muito se falou, durante o período da pandemia de Covid-22, sobre qual seria a grande reação das artes ao momento de introspecção forçada, de medo e insegurança. Agora, já percebendo as consequências do período no audiovisual, pode-se dizer que a retomada da nostalgia ganhou força, ainda mais quando alinhada a uma revisão do que ocorreu - não um revisionismo histórico, mas um olhar carinhoso para as próprias experiências, como recentemente aconteceu com Alejandro González Iñarritu ao produzir Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades, e agora com Steven Spielberg.


É impossível olhar para a história do cinema estadunidense e não reconhecer a importância de Spielberg. Além de ter sido muito importante na volta do público às salas de cinema com os blockbusters como Tubarão e E.T., o Extraterrestre, ele também mostrou que a capacidade técnica é essencial na hora de contar histórias - e que cada decisão conta, como filmar na altura dos olhos das crianças em E.T.. Quando ele decide recontar a sua história pessoal dirigindo também uma carta de amor ao cinema, é claro que o resultado seria extremamente satisfatório.


Já na primeira cena do longa-metragem, na qual Mitzi (Michelle Williams) e Burt (Paul Dano) explicam ao filho Sammy (interpretado aqui por Mateo Zoryan, e em sua fase adolescente por Gabriel LaBelle) como será a experiência de uma sessão de cinema, Spielberg já monta todo o cenário que se desenrolará ao longo do filme: a mãe explicando de maneira sentimental, o pai sendo lógico e o filho, no meio, tendo suas próprias experiências e tirando suas conclusões. Mais do que um típico coming-of-age, o que assistimos é a exposição de uma família que começa a amadurecer.


É perceptível o quanto o diretor abriu de sua privacidade para poder contar essa história, dado que muitos fatos são versões ficcionalizadas de sua experiência de vida. Ao optar por não fazer uma autobiografia direta, ele dá liberdade aos atores, mesmo que forneça também acesso ao seu passado para inspirá-los. Apesar de momentos nos quais a verborragia do roteiro possa atrapalhar na transmissão de emoções, o resultado é bastante impactante.


A narrativa clássica por vezes não é priorizada pelo excesso de cenas que não acrescentam muito à jornada do personagem principal, assim como a utilização de diversos personagens menores em uma obra de duas horas e meia. Isso contrasta com toda a carreira do diretor, que tem um grau de formalismo aplicado a todos os seus filmes. Mas, mostrando seu controle do ambiente cinematográfico, Spielberg cria um fluxo de cenas emocionantes seguidas por momentos cômicos que realiza a máxima de quase toda a sua carreira: entreter.


Acabam sendo contadas, de certa forma, duas narrativas: a da sua complexa relação familiar e seu romance com o cinema - e de vez em quando as duas se entrelaçam. Ao tratar do cinema, por exemplo, o diretor é muito mais livre para realizar planos ousados, exatamente com a máxima de mostrar a alegria que ele sente ao realizar seu trabalho, e como isso se construiu ao longo de sua vida. Já na questão familiar, há um apego aos ângulos e enquadramentos mais tradicionais, focando nas emoções dos envolvidos e em recriar, conforme o diretor explicou em entrevistas, o momento no qual os filhos passam a enxergar seus pais como pessoas, além de simplesmente como seus cuidadores.


Se por vezes o filme pode perder um pouco o espectador, é preciso comentar a sua sequência final, que mostra Sammy vivendo com o pai e conseguindo seu primeiro emprego na área do cinema. É um momento emocionante aquele em que o pai consegue perceber a essência do filho, que não mudará de acordo com sua profissão. E, para o diretor, é o momento de sua última homenagem aos gigantes que o inspiraram e criaram os alicerces da arte que ele usaria depois para nos encantar.

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