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Os Primeiros Soldados (Rodrigo de Oliveira, 2022)

Foto do escritor: Carol BallanCarol Ballan

AVISO: Esse filme contém gatilhos emocionais. Não é recomendado para pessoas com sensibilidade às temáticas de doença e morte.


Não se pode negar que o mundo acabou de passar por um trauma coletivo com a pandemia de coronavírus, e que é comum olharmos para o passado como uma maneira de prever comportamentos durante estes momentos de insegurança. Por mais que esse não seja o objetivo da produção ``Os Primeiros Soldados'', assistí-la em 2022 é uma experiência que remete rapidamente a esse trauma. O ponto de vista escolhido para tratar da epidemia de HIV nos anos 1980 é o de um homem gay que descobre ter a doença antes de ela ser devidamente classificada e controlada, o que novamente remete à situação caótica passada em 2020 e 2021. Mas na medida em que somos apresentados aos personagens e ao drama da homofobia e transfobia relacionados à AIDS, o cenário atual se afasta gradualmente e somos inseridos na trama proposta.

As atuações de Johnny Massaro como Suzano e de Renata Carvalho como Rose são destaques da excelência do trabalho. Misturando tragédias pessoais com toques de humor e a sensibilidade do filme dentro do filme, criam-se personagens profundos e com os quais é muito fácil empatizar. Também é extremamente acertado que, apesar do personagem principal ter uma família presente, se coloque a importância das famílias criadas entre pessoas LGBTQIA +, algo que persiste atualmente.


É a mistura entre momentos extremamente tensos e as felicidades pouco duradouras que permite ao espectador entrar em um universo muitas vezes desconhecido. Compreender que na época pouco se sabia sobre a doença e seus possíveis tratamentos - ainda mais considerando o cenário em que o Brasil se tornou referência de controle da epidemia através do SUS - é uma dificuldade para um público que tem toda a informação disponível a apenas alguns toques de distância, com a internet. Essa mesma mistura se reflete na fotografia do longa-metragem. Ao mesmo tempo que a maioria dos quadros é bastante fixa, alguns momentos de relaxamento são possíveis através do filme dentro do filme e sua câmera móvel. O desligamento da realidade ficcional se reflete como um alívio para quem assiste.


Aos poucos, se compreende a mensagem de que a intolerância sempre foi um fator importante na demora para se encontrar os tratamentos para AIDS. Em um país no qual ainda há uma morte de LGTBQIA+ a cada 29 horas, não era de se esperar que este não fosse um problema estrutural. E, mesmo quando não escancaradas como no caso de Rose e a transfobia passadas, as diversas facetas do preconceito são mostradas em tela em detalhes como a irmã que diz que o irmão deveria ter feito Teatro e não Biologia, por ele ser gay. Com toda a trama das medicações iniciais que é proposta, é impossível não refletir sobre a atual questão da vacinação da Covid e as diferenças entre algo que afeta toda a população contra o que foi chamado de “peste gay”.


O trabalho de reconstrução histórica é realizado de maneira eficiente, com a pausa para a reflexão por parte dos espectadores ao invés do simples sofrimento apelativo. Percebe-se que o diretor respeita os corpos em cena, sem fetichiza-los ou torná-los apenas uma representação da dor, mostrando também outras facetas, como a alegria ou a própria excitação. A família biológica, por sua vez, entra em cena como quem assiste ao filme, com curiosidade e tristeza, mas sem o envolvimento direto até que o assu

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