Ao saber do lançamento de Papai é Pop, longa-metragem dirigido por Caito Ortiz adaptado do livro de Marcos Piangers, é natural que se imagine uma comédia simples e bem-executada tratando do assunto paternidade. No entanto, ao considerar elementos como o histórico do diretor com documentários profundos e ficções premiadas, além da escolha de um elenco diverso e talentoso, percebe-se que algo está oculto pela camada de diversão.

A narrativa de Tom (Lázaro Ramos), que se torna um pai jovem, é acompanhada de discussões sobre a masculinidade e a falta de preparo e maturidade com a qual a maioria dos homens chega à fase adulta. Na medida em que ele percebe o quanto não está preparado para lidar com tais responsabilidades, são sua esposa Elisa (Paolla Oliveira) e sua mãe Gladys (brilhantemente interpretada por Elisa Lucinda) que o ajudam a encontrar o caminho para alcançar o papel de protagonista da própria paternidade.
Mais do que isso, ele acrescenta camadas à história ao abordar os repetitivos ciclos de violência entre homens, conforme explicitado por Lázaro Ramos na coletiva de imprensa realizada após a exibição do filme. Também foi citada a necessidade de trabalhar o assunto com o público masculino de uma maneira eficiente, mas ao mesmo tempo divertida, o que é alcançado - apesar de não se utilizarem meias palavras quanto à imaturidade de Tom, o humor vem de sua falta de percepção sobre si, e não de violências externas que o façam mudar.
As personagens femininas, por sua vez, roubam cena por sua construção e relevância na trama, sendo um pilar essencial para que a jornada de Tom se conclua. Apesar de fazer sentido dentro da trama, é importante apontar que pensando no objetivo declarado do diretor de abrir a conversa sobre masculinidade, o papel feminino muitas vezes flerta com o de salvadora. Da mãe que deseja ensinar ao filho a seguir o caminho certo à esposa que compreende, o equilíbrio é tênue no que diz respeito à tomada de consciência do homem, mas detalhes como os vídeos gravados e exibidos ao longo do filme como reproduções do YouTube acabam acertando esse tom.
Há situações que conseguem evocar elementos estruturais brasileiros de maneira discreta, porém contundente. Questões como o racismo velado se tratando de um casal interracial, abandono paterno, a influência de amizades e o papel de redes sociais entram em pontos específicos, mas não deixam de entrar na conversa proposta pelo longa-metragem.
O resultado é um filme divertido e emocionante, com nível técnico e de atuações elevado, com potencial para levar ao cinema um grande público. Lançado agora, próximo ao dia dos pais, acaba sendo bastante simbólico diante da necessidade de mudanças em relações de pais e filhos - e também é uma boa porta de entrada para todos os homens que desejem repensar suas posições em relação à vida.
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