top of page

Pleasure (2021, Ninja Thyberg)

Foto do escritor: Carol BallanCarol Ballan

AVISO: Este filme contém cenas fortes de conteúdo sexual. Não é recomendado para pessoas mais sensíveis ou menores de idade.


Pleasure, o longa-metragem de estreia tanto da diretora Ninja Thyberg quanto da atriz principal Sofia Kappel, provocou discussões desde a sua estreia no Festival de Sundance de 2021. Felizmente a obra chega ao Brasil mais de um ano depois pela plataforma de streaming Mubi.


Ao pensar em filmes que retratam a indústria de pornografia é difícil encontrar retratos ficcionais que reflitam o cenário mostrado em documentários. De Lovelace e Boogie Nights, que mostram as produções nos anos 1970 a desastres como Pagando Bem, Que Mal Tem?, pouco se fala das relações de exploração e desespero encontradas em Hot Girls Wanted e Depois que o Pornô Acaba. O que mais chega perto é Cam, que se volta ao terror para falar sobre o dia-a-dia de uma trabalhadora do sexo. Sendo este um setor que movimenta mais de U$10 bilhões por ano nos Estados Unidos, é impressionante que sua aparição no cinema comercial seja tão pequena.


Mais impressionante ainda é o feito de Ninja Thyberg, que consegue despir os preconceitos sobre pornografia para fazer uma análise extremamente profunda, ainda que acessível a um grande público. Através da personagem vivida por Kappel, Bella Cherry, vemos o que poderia soar como qualquer conto de advertência: a garota que sai da Suécia para virar atriz pornô em Los Angeles, vê todos os males e abusos da indústria e retorna para casa, dotada de uma nova moralidade. Ao invés disso, temos altos e baixos, conexões e dificuldades, todas pontuando que a pornografia é um reflexo do capitalismo, e por isso sofre as mesmas mazelas que todos os outros setores - mas nesse caso, tornados tabus.


Há um arco de personagem que brinca com a ideia de se tornar esse conto, mas é por seguir o outro caminho que ele se destaca. Se existe uma dificuldade inicial em compreender as ações de Bella, aos poucos é possível perceber o que a movimenta a vontade de provar que o resto do mundo está errado sobre ela, que ela não é como as outras garotas e que apenas ela vai alcançar seus objetivos profissionais, custe o que custar. Mas, por se tratar de uma área que envolve intimidade e traumas, as experiências dolorosas sofridas por ela para conseguir cumprir sua jornada são muito mais complexas, envolvendo abuso sexual e práticas sexuais pouco usuais.


Mas, quanto mais o filme avança, o espectador consegue perceber o paralelo com qualquer outro campo de sua vida, com pessoas melhores ou pior intencionadas e a cobrança da perfeição em todos os aspectos, sendo necessário ignorar seus sentimentos ou instintos. É o extremo da desumanização, contrapondo essa ideia aos corpos físicos sempre presentes, e sem a vergonha de mostrá-los como são.


Ao invés de se tornar uma advertência sobre os males da pornografia, o filme se transforma em um aviso sobre a sociedade de uma maneira geral. A competitividade, a pressão e o horror de ser fetichizada apenas em horas de trabalho são aplicáveis a quase qualquer emprego, mostrando que vivemos em uma sociedade doente, machista, racista, pedófila. O que Ninja Thyberg consegue é nos fazer pensar em nós mesmos e encarar nosso próprio reflexo no processo - e através disso, gera mais impacto do que apenas apontando culpados específicos para o que acontece na trama ou na indústria pornográfica.

0 comentário

Comments


Formulário de inscrição

Obrigado(a)

11985956035

©2021 por No Sofá Com Gatos. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page