Não há dúvidas para Hollywood que os filmes de terror estão em alta, com sua participação no mercado passando dos 10% em 2020 e permanecido em alta nos anos seguintes. Nesse contexto, além de reviver algumas franquias como Pânico e Halloween e seguir com as de sucesso como Invocação do Mal e Um Lugar Silencioso, cria-se espaço para novos filmes, como o lançamento Sorria.

O filme é o primeiro longa-metragem de Parker Finn, expandindo a ideia de seu curta-metragem Laura hasn’t slept. Após o sucesso do curta no festival SXSW, o projeto do longa foi viabilizado, inicialmente sendo pensado como filme para streaming e, após sucesso em sessões de teste, tendo um lançamento oficial nos cinemas. Ele conta a história da Dra. Rose Cotter, médica psiquiátrica que começa a passar por situações estranhas após um atendimento emergencial traumático. Ela precisa então revisitar seu passado para superar o ocorrido.
Apesar da obra utilizar algumas ideias já bastante exploradas como a maldição passada de uma pessoa para outra (Corrente do Mal, O Chamado) e uso do ambiente de tratamentos psiquiátricos (Ilha do Medo, A Cura), a combinação encontrada pelo roteirista e diretor consegue trazer elementos originais e que prendem a atenção do espectador. Seu arranjo específico de misturar a violência extrema com uma conversa oculta sobre saúde mental traz elementos interessantes para o filme de gênero, que costuma revelar camadas profundas a partir de ideias simples.
A capacidade do diretor junto à sua equipe técnica de criar imagens inspiradas em pesadelos é um dos elementos que mais chama a atenção. Das mortes mais realistas que causam extrema aflição até as imagens alucinantes que flertam com o imaginário surrealista, é clara a habilidade de surpreender o espectador. Há bons momentos de sustos, geralmente misturando fotografia, edição e trilha sonora, mantendo a aura de terror. Ainda quanto à parte técnica, se destaca muito a fotografia, com planos bem construídos e que acrescentam sentido na narrativa de superação de traumas.
O uso de cores também é tratado de forma interessante, com a justaposição entre claro e escuro representando bem e mal sendo quebrada em benefício da dinâmica criada entre pessoa traumatizada e causas do trauma. Isso se reflete desde as locações, como o hospital com suas paredes rosas, até o figurino de cada um dos personagens. Essa ambiguidade se reflete principalmente na traumatizada Rose, interpretada por Sosie Bacon. A atriz consegue trazer ao longo do filme a transformação da personagem desde sua postura até o seu olhar, e consegue dar profundidade ao assunto da saúde mental.
Mesmo se mantendo bastante fiel às regras e fórmulas clássicas do gênero, trazer a questão do trauma e saúde mental em uma produção de grande porte é um feito do filme. Conseguir fazer isso de maneira que o público do terror mais clássico ainda vá às salas para levar os sustos é ainda mais surpreendente. A obra infelizmente peca na mensagem passada justamente no seu encerramento, perdendo bastante da sua força quando o espectador sai do cinema e racionaliza o que foi assistido. Mas, provavelmente, ele indica que a carreira de Finn está apenas em seu pesadelo inicial.
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